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Terapia da Fala para pais e mães

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A entrada de uma criança para uma família representa um conjunto, nem sempre bem definido, de mudanças. Quando a criança é diagnosticada com dificuldades de desenvolvimento, os pais ficam sem saber o que fazer. Esta é aquela mudança para quem ninguém se prepara. Este artigo é sobre como ajudar os pais a ajustarem as estratégias da terapia da fala ao seu dia-a-dia e às suas rotinas. Escrevo-lhe sobre terapia da fala para pais, porque quando uma criança tem dificuldades de desenvolvimento, toda a família sente dificuldade em se adaptar e ajudar a criança.


Durante a licenciatura de terapia da fala recebi uma imersão em empoderamento da família. O tema estava na moda, mas não era posto em prática pela maioria das terapeutas da fala.


Desde as minhas primeiras consultas que pedi aos pais para entrarem com as crianças, não apenas na avaliação, mas também durante o acompanhamento.


Sem saber eu estava a ser rebelde. Várias foram as pessoas que me perguntaram com estranheza “a mãe também entra?”. Lamentavelmente, esta pergunta não era apenas feita por rececionistas e professoras, outras terapeutas da fala estranhavam igualmente o meu compromisso com as melhores práticas que me tinham sido ensinadas.


A persistência prevaleceu, apesar das críticas. Por vezes, os pais eram incentivados a boicotar esta minha opção de intervenção centrada na família. E diziam, “sabe comigo ele/ela porta-se mal e não faz nada”. A minha resposta era consistente, primeiro no sentido de experimentarmos; depois explicava que se a criança não fazia, não poderia fazer alguma coisa de novo em casa e noutros contextos.


A finalidade da Terapia da Fala não é levar as crianças a fazerem algo novo na consulta. A finalidade da terapia da fala é promover competências que possam ser levadas para a vida da criança, para o mundo.


Quem vai ajudar as crianças a fazerem esta transição? Quem lhes vai dar as pistas que ela precisa na fase inicial da intervenção fora da terapia da fala?


A família é um elemento central no desenvolvimento das crianças sem dificuldades, porque será que tanta gente ainda pensa que essa importância diminui quando as crianças têm dificuldades de desenvolvimento?


Talvez não pensem isso. Uma colega disse-me “é muito mais fácil não ter os pais na consulta”. A mim não me faz diferença nenhuma, pelo contrário, só vejo benefícios em trabalhar com os pais e com as crianças em simultâneo.


Assim, se passaram 7 anos. Em que, sempre que possível, trabalhava com as famílias e lhes dava muitas orientações para o que podiam fazer em casa.


E depois, percebi que estava a fazer algo mal…


Não por ter os pais na terapia da fala com as crianças, mas porque o método precisava de ser melhorado.


Em 2007, passei 10 dias com uma família com uma criança com uma síndroma genética. Foi aí que eu percebi: é impossível para uma família seguir as indicações todas que os profissionais lhes dão! A família tem de viver, tem outros elementos que precisam de atenção. A vida não é uma terapia 24 horas por dia. Viver não é isso.


Quando regressei a Portugal comecei a procurar formação para trabalhar com pais e, mais tarde fiz a certificação Hanen para trabalhar com pais de crianças com dificuldades de comunicação e linguagem.


Apliquei nas minhas consultas o que tinha aprendido e comecei a ter uma análise critica em relação aos resultados. Voltei a fazer formações e workshops, e, bem ao meu estilo, tornei a minha aprendizagem diversa, o que incluiu estudar psicologia, antropologia, educação para adultos e, claro, neurociências.


Das minhas aprendizagens, teóricas e práticas nasceu o programa Terapia da Fala para Pais.


Este programa não tem um alinhamento pré-definido, a família é que decide em que áreas precisa de ajuda. Por vezes, as famílias não sabem e precisam de orientação para definirem os objetivos que melhor se ajustem ao momento atual da criança.


As estratégias fornecidas são incluídas nas rotinas da família, de forma que não tenham que fazer grandes mudanças. A inclusão está aqui incluída. A criança deve participar nas rotinas da família, e, sempre que possível, essas rotinas não devem mudar por causa da criança. Claro que esta é uma zona cinzenta, depende muito das dificuldades de desenvolvimento da criança e da sua autonomia.


As estratégias de comunicação são mantidas por um mês antes de serem revistas. As estratégias de fala podem ser revistas a cada quinzena. E o no que toca à alimentação e deglutição, são dadas orientações que apenas mudam quando a criança passa à fase seguinte da intervenção.


Este programa de terapia da fala para pais pode ser um acompanhamento a médio prazo ou longo prazo. As crianças que acompanho em terapia da fala têm estes elementos incluídos nas suas consultas. Mas são muitos os pais com dúvidas e perdidos nas informações infinitas que recebem dos profissionais de saúde. Quanto mais complexa a dificuldade de desenvolvimento da criança, mais dúvidas têm os pais, mais apoio específico é necessário para a família.


O programa de terapia da fala para pais está disponível online, onde usamos vídeos das crianças que analiso com os pais e, da análise surgem as estratégias a implementar, ou de forma presencial, na cidade do Porto.


A terapia da fala para pais segue o modelo do paradigma integral, que promove o desenvolvimento integral da criança e dos pais.


Se conhece pais em dificuldades encaminhe-lhe este artigo para que possam ter a oportunidade ajudar a sua criança no processo de desenvolvimento de uma forma integral.


Viva Integralmente, 

Andreia


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