Não vai há muito tempo tivemos tratores a bloquear estradas por toda a Europa. Será que as reivindicações ficaram arrumadas? Ou os agricultores só voltaram às terras porque está a chegar a primavera? Este é um artigo de opinião, como todos os outros, mas mais opinativo do que outros. A culpa é da europa! (Já que temos por tradição arranjar culpados para tudo!) O desplante destes políticos europeus a quererem travar o uso de pesticidas e fertilizantes na comida que vai parar aos nossos pratos! Qualquer dia ainda pensam em cuidar da nossa saúde!
Foi a gota de água! Os agricultores de toda a europa decidiram protestar por melhores condições de trabalho, melhores preços, mais subsídios, medidas mais atempadas e adequadas quando têm prejuízos nas intempéries. E a ameaça foi/é: sem agricultura há fome – uma versão disso.
Os agricultores são uns medricas! Mais um clássico caso de medo da mudança.
Vamos por partes…
Os agricultores têm 100% de razão quando contestam os baixos preços que lhes são pagos pelos seus produtos. A reivindicação de que a agricultura deve seguir as regras do comércio justo e não deixar a maioria do lucro nos grandes distribuidores, é antiga, e muito justa.
As injustiças comerciais geram injustiças sociais.
O que podemos fazer, enquanto cidadãos, para ajudar os agricultores?
Comprar as frutas e legumes diretamente aos produtores, ou em comércios locais, em vez de comprar mas grandes superfícies.
Comprar a granel.
Comprar frutas e legumes da época.
A vantagem direta para nós, consumidores, é que ficamos mais saudáveis, principalmente se comprarmos frutas e legumes biológicos. A vantagem indireta é a que a construção de um sistema mais justo cria uma sociedade mais equilibrada.
A transição verde
A europa decidiu, não de forma rápida, nem insensata, que os agricultores deviam reduzir o uso de pesticidas, fertilizantes químicos e herbicidas. A justificação é a mais-que-válida transição para uma agricultura amiga do ambiente.
Os agricultores estão assustadíssimos com as mudanças! Um típico caso de medo da mudança.
Há imensas vantagens na transição verde, uma delas é a diminuição dos custos com os fertilizantes. Contudo, por alguma razão as pessoas fortes que trabalham todos os dias de todos os anos na agricultura estão pessimistas em relação ao futuro. Numa típica reação de resistência à mudança.
A transição, para uma agricultura mais orgânica, implica mudanças na forma como se cultivam as frutas e legumes. Mudanças na organização dos terrenos agrícolas, na variedade de produtos que são cultivados, no uso de plantas que previnem as pragas e no tipo de fertilizantes usados.
Todas essas mudanças podem requerer algum investimento inicial, e formação em novos modelos de produção, mas a médio prazo os custos diminuem. A mudança é radical sim, mas para melhor! É a passagem de modelos de exploração intensiva da terra, de monoculturas, para explorações biodiversas e ecológicas. Em alguns casos, é um regresso a técnicas ancestrais de cultivo, com as vantagens das tecnologias atuais.
Os custos económicos com a transição são apoiados pelos vários governos, os fundos vêm da União Europeia – os MALVADOS! Contudo o derradeiro custo, que assusta os produtores agrícolas, é o custo mental da mudança.
Para Portugal, especificamente, que é um país onde predominam os pequenos negócios agrícolas, a transição para uma agricultura ecológica é um passeio no parque. A mudança pode dar aos agricultores margem negocial com os grandes distribuidores devido ao aumento do valor acrescentados dos seus produtos. Uma vantagem, que se for bem aproveitada pode levar a uma distribuição mais justa dos lucros dos produtos agrícolas.
Mas falta uma questão! A regulação ecológica da produção agrícola na europa é simultânea à negociação de acordos comerciais com a américa do sul para a importação de produto alimentares cuja atividade de produção é completamente desregulada. Esta é uma questão central na luta dos agricultores por toda a europa. Esta é uma das questões em que os agricultores têm toda a razão.
O que pode efetivamente estragar a transição verde da UE é a invasão dos produtos mais baratos de países não Europeus. Num momento de crise prolongada e aumento do custo de vida, como a que vivemos atualmente, as famílias fazem escolhas com base no preço e não na origem dos produtos. Isso pode deixar na prateleira os produtos europeus, mais caros, mas mais saudáveis e de melhor qualidade, enquanto os alimentos “menos-bons” são consumidos por serem mais baratos.
Consequência direta de escolhas alimentares sem qualidade:
a médio prazo os países da UE aumentam, ainda mais, os custos com os seus sistemas de saúde, porque os alimentos cheios de toxinas provocam doenças – como é sabido.
Neste cenário negativo da transição verde, as injustiças são ampliadas em vez de serem combatidas e minimizadas. São as classes mais pobres, com maiores restrições de orçamento, que consomem os alimentos mais baratos e de menor qualidade.
É uma obrigação ética que todos temos de comprar os alimentos mais saudáveis, de produção local e, sempre que possível, de comércio justo. Uma obrigação ética para com o sistema se saúde que todos pagamos, e para com as pessoas da nossa comunidade que devem ser apoiadas na sua luta de receber o pagamento justo pelo seu trabalho.
Como é que se resolve este dilema?
Certamente há múltiplas soluções. Uma delas é impor aos produtores que vendem para a EU as mesmas regras dos produtores europeus.
Esta seria uma vantagem, não apenas para os agricultores europeus, mas para o planeta como um todo. Uma agricultura global mais sustentável implica mais força na luta contra as alterações climáticas.
Essa medida traduz-se em:
a) água mais potáveis por diminuição do uso de pesticidas, fertilizantes e herbicidas;
b) repovoação dos campos com populações de insetos que estão ameaçados pelos químicos tóxicos – químicos que vão parar ao nosso corpo quando comemos os alimentos;
c) uma agricultora menos intensiva e mais biodiversa, reverte o empobrecimento do solo, com que muitos agricultores começam a ter problemas.
Para mim, estas vantagens compensam largamente o custo e os aborrecimentos da mudança.
Esta é uma escolha ética, mas é também a escolha que mais compensa em termos económicos.
A forma como produzimos os alimentos, a independência em relação ao exterior, a sustentabilidade do sistema de produção estão diretamente relacionadas com a nossa segurança e saúde, atuais e futuras.
As frequentes queixas das decisões europeias que não vão ao encontro das necessidades das pessoas comuns não são muito justas, pelo menos neste caso. Somos todos europeus e, ainda que tenham sido tomadas más decisões no passado, é possível e viável chegar-se a um sistema equilibrado e justo para todos. É impensável fazer isso país a país. A economia está demasiado globalizada para que essas negociações individuais pudessem ser bem-sucedidas.
Como população temos pouca consciência do peso que as decisões tomadas na EU. Os noticiários abrangem tantas notícias locais, que não têm nenhum impacto nas nossas vidas, mas despertam emoções – muitas vezes emoções negativas – e não dão a importância devida ao que acontece entre Bruxelas e Estrasburgo.
O canal público tem vários programas sobre a europa, na televisão por cabo (agora é fibra). Mas, tal como os programas sobre a política nacional, não têm audiências significativas. O que implica, na prática, que as pessoas estejam desinformadas, não por restrições da informação mas por desinteresse pessoal.
O negativismo generalizado nas televisões e jornais talvez tenha responsabilidades nisso. A perceção geral é que tudo funciona mal e que a culpa é dos políticos. Mais uma vez as culpas… neste caso temos mais dedos a apontar, porque as notícias de como a sociedade continua a funcionar bem em tantos serviços públicos e privados, poucas vezes são divulgadas.
Desregulação Emocional
Ao darmos constante atenção a tudo o que é negativo (ou melhor, a tudo o que nos é contado como sendo negativo) o nosso cérebro programa-se para encontrar traços de negatividade em todas as áreas. Isso transforma-nos em pessoas que estão constantemente á procura de defeitos, nas suas vidas e nas vidas dos outros. É o efeito da vítima das circunstâncias, constantemente a amplificar os aspetos negativos e a criar estórias de desgraças.
Os desgraçados não têm capacidade de mudar, por se destituírem de poder pessoal. Estão à mercê das circunstâncias. Esta consequência, muitas vezes inconsciente das estórias que contamos e que ouvimos, retiram-nos opções de escolha e vontade de mudar, mesmo que seja para melhor.
Como povo, português, europeu, lusófono o negativismo constante transforma-nos em pessoas revoltadas, incapazes de acolher opções pacíficas de desenvolvimento e evolução pessoal. Por outras palavras, tornam-nos resistentes às mudanças (mesmo as positivas) e mais propensos a revoltas e revoluções agressivas.
O negativismo constante é a força que alimenta o crescimento da extrema-direita, em Portugal e na Europa.
De repente olhamos à volta e perdemos o entusiasmo por tudo aquilo que funciona bem, por tudo o que há de bom, pelas alegrias que a vida nos dá. Estamos viciados nas emoções negativas, que nos dão energia como a raiva para fazer algo, algo violento, algo “anti”.
Ao equilibrarmos a nossa visão do mundo com os aspetos positivos, começamos a aproximar-nos da verdade. Recuperamos o entusiasmo pelo desenvolvimento: mudanças voluntárias e sem sofrimento, que promovemos para melhorar ainda mais as condições da nossa vida pessoal e da vida do planeta em que vivemos.
As escolhas que fazemos afetam os agricultores de toda a europa e de todo o planeta. As escolhas que fazemos a nível pessoal, na gestão das nossas compras, são o bater de asas de uma borboleta que desencadeia uma tempestade algum tempo depois.
Eu escolho ser ecológica, apoiar o comércio local e justo, sempre que posso. Escolho ser feliz e ajudar o planeta a ser mais saudável. E você? Que escolhas éticas faz para promover a saúde integral? Diga-me nos comentários ou, se preferir, mande-me um email.
Viva integralmente,
Andreia
コメント