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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

Sem Futuro


Será que alguém acredita que uma bazuca consegue matar um vírus?


Fico sempre surpreendida com as respostas que obtenho às perguntas que coloco, e esta não é exceção. Pelos vistos muitos são os crentes que recusam as evidências.


Embora a maioria não acredite na salvação europeia, quase todos pensam que o dinheiro é a salvação do mundo. E eu acho isto incrível!


Um problema que não é monetário poderá ser resolvido com dinheiro?


É como querer tratar sintomas sem nunca tratar a causa, vamos andar constantemente a injetar dinheiro e os problemas nunca ficam resolvidos. Esperem, huuum… já é isso que fazemos desdeee … seeempre!


E que tal mudar de estratégia? Já que esta nos levou diretamente à bancarrota, e fez do país o melhor num setor que não vai a lado algum tão cedo?


Todas as empresas do setor do turismo pedem apoios a fundo perdido. A restauração então salta para as ruas e culpa os jornalistas, porque “não há doença nenhuma perigosa, e são tudo notícias falsas” - como se está a ver como o novo aumento de casos.


E nisto tudo eu só vejo desespero.


O desespero de quem se organizou para seguir um rumo com o qual tão cedo não se poderá realinhar. É impensável para o país dar dinheiro a empresas que necessariamente fecharão. Os hábitos de consumo dos portugueses mudaram, o dinheiro que têm disponível é menor, muitos restaurantes fecharão, não tenho qualquer dúvida. E não se trata de sobreviverem os melhores a nível de serviço prestado. Sobreviverão os que têm mais liquidez, e que conseguirem minimizar os custos e pagar as contas.


É impensável não despedir pessoas.


Vou bem mais longe e acrescento, é indispensável despedir as pessoas.

Há que encarar a realidade. Ainda que a pandemia termine neste ou no próximo ano, e isso não é líquido, a vida das pessoas mudou. Os hábitos de consumo mudaram e vão continuar a mudar, e as empresas para serem bem-sucedidas têm de responder não aos ideais dos seus proprietários, mas às necessidades dos seus clientes.


Enquanto andarmos todos a fingir que vai ficar tudo na mesma, agarrados a apoios e bazucas, dependentes de subsídios que nada fazem além de deixar tudo na mesma, o que realmente acontece é que fica tudo na mesma. Na mesma crise. Não se sai da crise, e esta entretanto agiganta-se.



Quando as pessoas ficam sem emprego, reorganizam-se. Perdem a esperança durante algum tempo. Fazem o luto aos sonhos que tinham alimentado e reúnem os seus recursos mentais, e económicos para recomeçar face à nova realidade.


Os despedimentos que tantos temem são necessários para recomeçar. Não há como evitá-los. E o dinheiro do estado, gasto para apoiar as famílias, é muito melhor entregue às famílias no desemprego do que a empresas que mesmo passada a pandemia já não têm futuro.


Os humanos agarram-se ao passado com uma força brutal. Ao ponto de deixarem de ver a realidade como ela é.


A tão grande vontade de ganhar ao vírus não nos deixa ver que não é possível matar um vírus com uma bazuca. Não nos deixa ver que não se trata de ganhar ou perder, trata-se de sobreviver no presente e criar um futuro sustentável. Nada disso é possível se não encararmos a verdade de frente.


A verdade é a aliada da recuperação económica e social que esta pandemia pôs a descoberto.

Se pensarmos bem, nenhum dos problemas que o país e o mundo estão a enfrentar são novos. As proporções é que são maiores. O vírus amplificou os problemas que já existiam não permitindo que as meias-verdades e as muitas ilusões que as acompanhavam continuassem a singrar na vida.


E nós vamos continuar a iludir-nos tentando manter portas abertas que não pagam as contas?


Ou vamos para casa e pensamos em alternativas que sejam rentáveis face à nova realidade?


Por muito doloroso que seja pôr um ponto final a um projeto pelo qual se lutou muito, será bem mais doloroso não o fazer. Fazer o luto dos sonhos impossíveis é o primeiro passo para recomeçar uma vida com novos sonhos.



Ao contrário de partidos políticos, associações sindicais e governantes, eu vejo no desemprego a solução e não o problema do país. A solução que vai permitir o reajuste social de que o país precisa. O reajuste ajustado à nova economia, a economia pós-pandemia.


Qualquer solução tem primeiro que ser sonhada, imaginada, pensada, antes de se concretizar. Agarrados aos velhos hábitos e velhos sonhos, não conseguiremos pensar em mais nada.


Por muito difícil que seja, é preciso deixar cair as ilusões e abraçar a verdade.


Esta é a solução para a crise.


Viva Integralmente.

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