Sabor Integral

Fácil e Rápido!

A vida moderna com a sua complexidade e velocidade furiosa, pede-nos sempre para que a preparação das refeições seja rápida e fácil.

Rápida porque não se quer perder tempo com tarefas que muitos consideram menores. Fácil porque não se quer perder tempo a aprender técnicas de especialista.

Refeições rápidas, tempos rápidos, pessoas apressadas. Tudo corre. Mas será que corre tudo bem?

Presença

Estar no presente, viver no presente garante maior produtividade no planeamento e execução de tarefas no trabalho, maior assertividade nas relações interpessoais, maior felicidade em termos gerais.

E qual dos sentidos pode trazer-nos para o presente e permitir-nos experimentar o poder do agora?

A resposta certa é qualquer um deles. É isso que os sentidos fazem, sintonizam-nos com o aqui e agora. O paladar, juntamente com o olfato, são “mais primitivos” em termos evolutivos. Isso significa que estão ligados a estruturas primitivas do sistema nervoso. Isso significa que têm a mesma capacidade do que qualquer outro sentido para nos transportar para o aqui e agora, mas que o fazem mais rapidamente.

É por isso que as memórias gustativas e olfativas são as últimas a ser afetadas em doentes com demência.

Mais devagar, para crescer rápido

A alimentação como fonte de saúde não pode ser apressada. Podemos ter no nosso repertório muitas receitas rápidas, um muito popular dossier de fast food saudável, mas não podemos apressar as refeições. Cultivar o palato é uma arte, uma arte na qual vale a pena investir. É só quando nos permitimos o tempo para saborear os alimentos que descobrirmos de que forma cada um deles nos pode ajudar para que tenhamos um dia-a-dia cada vez mais saudável.

É quando nos permitimos o tempo para saborear os alimentos que conseguimos detetar as subtilezas de cada elemento que constitui a refeição da qual desfrutamos. Toda a nossa atenção está focada na tarefa (comer), as preocupações desaparecem, a mente esvazia-se e a refeição transforma-se numa espécie de meditação. Focamo-nos na comida e na interação dos alimentos com o corpo. Descobrimos atritos entre alimentos e atividades que praticamos, disposições potenciadas por pratos específicos, comidas que confortam e outras que nos deixam desconfortáveis. Tudo isso se nos permitirmos perder o tempo e prestar atenção.

Como praticamos todos os dias, aprendemos depressa. Evoluímos rapidamente e quando partilhamos a refeição com outras pessoas, a conversa flui à mesa, da mesma forma como flui a nossa consciência dos sabores que vamos degustando. E tudo é inteiro.

As comidas mais rápidas

A forma mais rápida de preparar refeições saudáveis é usar os alimentos crus.

Com a mesma velocidade permite-nos distinguir os diferentes sabores pois o que os une é apenas o molho.

Alimentação saudável para principiantes pode bem começar pelas múltiplas saladas, umas simples outras mais complexas. Todas rápidas de preparar, ótimas para levar na marmita, saudáveis e agradáveis de provar. Ideais para tempos quentes, vêm mesmo a calhar!

E agora entra a linguagem

Como não podia deixar de ser, nisto do desenvolvimento pessoal a linguagem mete sempre a colher.

É claro que eu não seria eu se não tivesse um dicionário de sabores. Tenho!

A linguagem dos sabores rege-se pelas mesmas regras da linguagem ferramenta do pensamento. Aliás, a primeira faz parte integral da segunda. (Estou a complicar a sintaxe de propósito, para que não pensem que alguma parte disto é fácil!)

A linguagem, tal como um palato de artista, constrói-se com base em contrastes. E forma um espetro de tons, subtons, etc. que aproxima e afasta cada elemento dentro do espetro. Tanto no espetro dos sabores, como no espetro da linguagem (o primeiro está dentro do segundo!, como já tinha referido doutra forma).

E quando toda a gente pensava que sabia o que era isso de comer, afinal comer é muito mais do que se pensava!

É a energia que recebemos dos alimentos, é a satisfação que retiramos das refeições que partilhamos, é mais do que a soma das partes. O resultado final traduz-se em saúde, felicidade ou nos seus opostos.

A princesa e a ervilha

A história da sensibilidade para crianças. A princesa é descoberta por ser a mais sensível. E a sensibilidade revela-a porque ela teve o tempo e a disponibilidade para se treinar em distinguir pequenas diferenças, que para outros não são percetíveis.

O refinamento necessário a desenvolver a sensibilidade não é adquirido através da aplicação da força bruta. Pelo contrário, a sensibilidade desenvolve-se aplicando cada vez menos força às tarefas que são alvo da nossa atenção.

Ser sensível é ter a grande capacidade de detetar contrastes cada vez mais pequenos. Distinguir sabores entre pratos complexos, percecionar elementos que conjugados se transformam em algo mais do que a soma das partes.

No complexo mundo do desenvolvimento pessoal o sabor une de forma tão rápida todos os sentidos que nos eleva a uma forma instantânea de pensamento integral. É tudo tão rápido que os mais distraídos podem nem dar por isso. Na minha opinião, a grande maioria das pessoas anda distraída, na verdade autodistrai-se com tudo e mais alguma coisa. A grande maioria das pessoas não gosta de olhar para dentro, talvez tenham medo do que podem descobrir, mas nesse caso têm medo delas próprias… não sei bem como explicar isto. Espero que cada um descubra a sua própria explicação. Não me atrevo a uma generalização em tão larga escala como a da natureza humana.

Alimentação é comunicação.

Os alimentos unem as diferentes partes de nós, potenciando ou não os processos que mantêm a vida. A comunicação interna, a que mantemos connosco, não é apenas alimentar. A alimentação define a forma como as outras comunicações se estabelecem, com mais ou menos qualidade, ou seja, com mais ou menos saúde.

Pensar na alimentação para a saúde é considerar o papel central que os alimentos têm na manutenção da nossa qualidade de vida. É compreender processos, formular hipóteses, esperar resultados, testar o conhecimento à medida que este está a ser construído. E tudo isto é parte integral do refinamento da ferramenta que usamos para pensar: a linguagem.

A linguagem é o processo que manda nisto tudo!

Fique bem, viva integralmente!