O apelo às compras constantes porque é “aquela altura do ano” deixa-me mal disposta. A burrice coletiva das compras desenfreadas que destroem o planeta, continua a espantar-me, apesar de eu saber que a inconsciência ainda é grande. Pensei que contributo poderia dar para melhorar a consciência ecológica das pessoas, pelo menos das “pessoas que estão à minha volta” e optei por escrever sobre a sabedoria na abundância, por oposição à sensação de escassez que é criada com os constantes apelos da publicidade e da tradição. Vai querer inquietar-se e ler este artigo?
A natureza é abundante
Já reparou na quantidade de frutos que uma árvore dá por estação? Já viu quantas pessoas têm árvores cheias de fruta e não a colhem?
Pode não ser frequente nas maiores cidades do país, onde não há muitas árvores, mas basta uns minutos de viagem para os arredores e esta é a realidade que encontra um pouco por todo o país.
A natureza é abundante no que nos oferece, mas sociedade tornou-se comodista e o medo da escassez faz com que os menos corajosos se agarrem às tradições decrépitas, que levarão à destruição da vida no planeta.
Quando destruímos a natureza, destruímos a abundância de vida e a abundância necessária para a manutenção da vida humana. Como reverter o ciclo vicioso do comodismo instalado? É mais fácil pegar num saco de frutas embaladas no supermercado do que apanhar as que estão na árvore. Mas será igual?
A saúde humana está interdependente da natureza. Não apenas para a produção de alimentos, mas também de oxigénio e bactérias.
Não, não é uma gaffe
O nosso corpo está povoado por bactérias, tanto na pele, como no intestino. Estas bactérias são essenciais para a manutenção da vida. Ao mesmo tempo, as bactérias diminuem o tempo de vida dos alimentos frescos, logo a industria alimentar tem processos que matam as bactérias para que os seus produtos tenham mais tempo de prateleira (mais tempo de validade).
A grande questão que se coloca é que valor têm estes alimentos, destituídos de abundância microbiana, para a manutenção da vida e da saúde humana.
O leite seja de origem animal ou vegetal é pasteurizado, ótimo para que dure mais tempo, péssimo para a diversidade do microbioma intestinal de quem o bebe.
O excesso de eliminação/limpeza microbiana deixa-nos expostos a doenças “crónicas”, porque elimina a abundância de interações com a natureza que sustenta a vida.
Se olharmos para a evolução da espécie humana, descobrimos que o intestino foi o primeiro cérebro. Atualmente, chamamos ao intestino humano o segundo cérebro dadas as suas conexões com o sistema nervoso central.
A saúde mental, os desempenhos cognitivos mais elevados, o autocontrolo emocional, parte da regulação hormonal, tudo isto depende da diversidade de bactérias que estão a trabalhar para nós no intestino.
Pode fazer todas as piadas que quiser sobre as fezes e o cérebro
Isso não muda a seriedade do assunto. Muitas pessoas para não demonstrarem que não sabem nada de um tema fazem uma piada aporcalhada para desviar a atenção para processos básicos da nossa humanidade. Este é um facto da vida: quem não sabe o que dizer e quer chamar a atenção para si, vai atacar o que é dito de alguma forma.
Abdico de escrever sobre da ignorância dos narcisistas (os psicólogos que se divirtam com isso), para me focar no que realmente me importa.
A nossa relação física direta com a natureza faz-se pelas trocas de oxigénio na respiração, e pelas povoações de bactérias e outros microrganismos do nosso corpo.
Ao destruir as bactérias que têm maior potencial de provocar doenças estamos também a destruir as bactérias boas, as que são fundamentais para o funcionamento do nosso corpo e da nossa mente. Essa destruição leva à atual crise das superbactérias, que resistem aos antibióticos e matam. Uma das vias descobertas para combater as superbactérias é o recurso a medicamentos que contém os vírus que matam as bactérias más - fagoterapia. Estes vírus existem em águas consideradas impróprias para consumo (onde são colhidos e isolados para administrar a pessoas com bactérias específicas).
A cura para estas doenças que os antibióticos não conseguem curar é a diversidade de bactérias e vírus numa convivência em equilíbrio dinâmico.
A cura é o regresso à abundância que a natureza tem com lei da vida.
Sabedoria na abundância
A diversidade de microrganismos no nosso corpo protege-nos das doenças, muitas delas são doenças crónicas que custam milhões de euros em tratamentos de saúde ao estado, e uma quantia incalculável de sofrimento humano. Seres humanos em sofrimento são menos produtivos no trabalho, menos criativos e não expressam plenamente o seu potencial.
Quando um ser humano não vive de forma plena, a sociedade fica mais pobre.
No meu trabalho, como terapeuta da fala, a devolvo a abundância natural das interações pessoa-natureza com uma abordagem integral ao desenvolvimento humano. Esta abordagem incluí o trabalho de respiração integral, alimentação e todos os processos de desenvolvimento da linguagem e fala. A base da manutenção da saúde (com a respiração e alimentação) garante que os meus clientes tenham melhores e mais rápidos resultados no desenvolvimento da linguagem (processo cognitivo) e da fala (ato motor: a fala é o movimento mais complexo e sofisticado do corpo).
Na terapia da fala é frequente trocar receitas com os meus clientes, para os levar a experimentar a saúde através do paradigma do desenvolvimento integral.
Para eles e para si, podem agora experimentar as minhas receitas básicas que passei a disponibilizar aqui. Partilhe-as com quem quiser, vamos espalhar saúde.
Espalhar saúde
Compreender a sabedoria por trás do que fazemos promove transformações integrais. Por isso, quero que compreenda as vantagens de usar leites vegetais na sua alimentação.
Não sei em que década começamos a ingerir quantidades industriais de leite de vaca e seus derivados. Sei que o mercado destes produtos foi criado com base no medo de não estarmos a ingerir cálcio suficiente. Mais o uma vez, o medo da escassez.
O tempo passou e os cientistas testaram múltiplas teorias e práticas. Concluíram que não precisamos de leite de origem animal para além da infância. No mesmo sentido, verificaram que o excesso de consumo de produtos lácteos estava a deixar uma parte considerável da população doente.
E o mercado criou o leite sem lactose! Uma forma engenhosa de manter o poder económico de indústrias milionárias que pagam ninharias aos produtores de leite.
Globalmente, o excesso de consumo de produtos de origem animal está a destruir a natureza.
Para alimentar a procura de carne de vaca e de leite de vaca, abatem-se árvores nas florestas tropicais e subtropicais, o que destrói a biodiversidade e agrava a poluição atmosférica. O fenómeno chama-se desflorestação massiva.
As vacas são criadas em condições deploráveis, são tudo menos felizes. A saúde destes animais é mantida com antibióticos (os tais que matam as bactérias boas e más), suplementos hormonais e rações produzidas com pesticidas e resíduos de herbicidas. Todos estes químicos passam para os seres humanos quando comem a carne e os produtos lácteos.
Estas fábricas de animais emitem um gás que provoca maior aquecimento global do que o dióxido de carbono: o metano. O metano é produzido pela digestão das vacas. Quando a população animal estava em equilíbrio com a natureza, o metano não era um problema. Este problema surgiu com a massificação da alimentação promovida pela indústria alimentar. Por outras palavras, as vacas não têm culpa, coitadas. Culpadas são as pessoas que decidiram que têm de comer carne de vaca todas as semanas, em todo o mundo!
Uma parte considerável dos campos agrícolas produz alimentos para animais, não para humanos. Estamos a alimentar uma indústria que nos está a destruir. Não acha que é melhor mudar alguma coisa antes do colapso?
Os leites vegetais são uma alternativa ao leite de vaca. Se forem de origem biológica são uma boa alternativa. Mas há ainda opções mais saudáveis, para si e para o planeta.
Os leites vegetais de compra têm de passar por processos que eliminam as boas bactérias, para poderem ter mais tempo de vida nas prateleiras das lojas.
Estas bebidas vegetais têm ainda as embalagens que consomem imensos recursos naturais e energéticos na sua produção e reciclagem. Como sabemos ainda há muitas pessoas que não reciclam – o que devia ser crime contra a humanidade, mas ainda não é.
A mais saudável de todas as opções á a produção caseira de leites vegetais. Não é tão conveniente como pegar numa embalagem numa loja, mas o ganho em saúde compensa o pequeno esforço feito.
Para fazer leites vegetais precisa de comprar os frutos secos, cereais ou sementes que quer usar e, depois de demolhados, tritura-los com água e coar para filtrar o leite.
Este leite tem as bactérias e enzinas naturais dos ingredientes que foram usados e vai dar via ao microbiona intestinal. Como tem origem em alimentos integrais (inteiros), a riqueza de nutrientes é maior.
Se não tem nenhuma alergia ou intolerância alimentar, pode fazer uma vez por semana leite vegetal caseiro e melhorar a sua saúde de forma integral. O leite vegetal caseiro conserva-se 3 dias no frigorífico. Nos restantes dias da semana, pode usar leite vegetal de compra ou manter o leite que já usa. Pelo menos diminui em metade esta componente da sua pegada ecológica e melhora a sua saúde integral.
Para pessoas com algum tipo de intolerância, doença intestinal, alterações de desenvolvimento os leites de origem vegetal caseiros devem ser a opções preferencial, ou seja, use-os 80 a 90% das vezes em que consome leite nas suas rotinas.
Esta é uma regra alimentar especialmente importante para as perturbações do espetro do autismo. As crianças e adolescentes têm ganhos de comunicação muito rápidos, porque o intestino regula uma parte significativa da produção de neurotransmissores.
Estamos próximos do fim do ano e a sociedade anda “louca” com as compras e excesso de consumo. Faça a diferença, partilhe saúde com os seres humanos e com o planeta. Eu vou partilhando semanalmente, as minhas receitas deliciosamente saudáveis. Clique no botão para descobrir as primeiras partilhas.
Viva integralmente,
Andreia
コメント