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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

Pressupostos Errados


A ideia não é propriamente nova, muito menos inédita. Trata-se de um traço de inteligência saber que quando se quer intervir em tudo, a probabilidade é que não se consiga fazer grande coisa.


Por isso, gestores e CEOs, economistas e financeiros, definem metas e objetivos para os seus negócios. Com base nestas metas desenham estratégias de ação. E, muitas vezes, falham. Ainda que oficialmente o trimestre, semestre ou ano tenha sido positivo, raras são as vezes em que as estratégias dão os resultados esperados.

Isto acontece umas vezes por defeito – mais das vezes – outras por excesso. Nestas últimas situações, em que os resultados superam as expectativas, as pessoas sorriem mais.


A questão é que os seres humanos são péssimos previsores. Em defeito ou em excesso falham nas análises e, como tal, as metas que traçam são irrealistas. Estas falhas repetitivas surgem por várias razões, sendo a mais óbvia a linearidade do pensamento, por oposição ao pensamento sistémico. Procuram-se causas e efeitos com premissas erradas, logo o resultado final … isso mesmo, adivinhou, dá asneira. Nem sempre as asneiras são significativas, por vezes os resultados finais são próximos dos esperados, mas a verdade é que ninguém sabe bem porquê. Uma outra razão para as repetidas falhas das projeções, é que estas são feitas com base em critérios passados. Ora, com o mundo em constante mudança, e mudança cada vez mais rápida, é fácil de adivinhar que o que era causal ontem, poderá não o ser hoje ou amanhã. Muitas bases de dados que orientam elaboradas planificações, não têm qualquer valor, por representarem números do passado. São as tais premissas erradas.


Analisemos o efeito da pandemia na economia


Sucessivas vezes ouvimos governantes e especialistas afirmarem a incerteza face ao que iria acontecer por nunca ter acontecido antes. Ao mesmo tempo, pedem inovação, defendem a criatividade e o desenrascanço português para superar as dificuldades e aproveitar novas oportunidades. No dia seguinte, defendem a planificação, o planeamento estratégico. E como conjugar todas as forças? Umas não invalidam as outras, são todas relevantes em contexto pandémico e em contexto não pandémico também. E agora?


Agora, os economistas pegam nos indicadores do passado e preveem o futuro próximo. Como seria de esperar, visto que o mundo mudou consideravelmente no último ano e continua a mudar a uma velocidade alucinante, isso vai mesmo correr muito bem!!!

Como podemos acreditar em previsões futuristas que têm por base não a realidade atual mas os indicadores financeiros que já nem no passado recente faziam sentido? Eu não acredito mas, como em tudo na vida, cada um acredita no que quer.


No mundo real, o desemprego não disparou mais porque muitas pessoas teimam em endividar-se para manter empresas que o resto da humanidade sabe (uns conscientemente, outros intuitivamente) que não são viáveis. No mundo real, as pessoas recorrem cada vez mais a ajudas sociais para se alimentarem. No mundo real, a economia informal continua a funcionar ainda que a um ritmo muito mais lento do que antes da pandemia. No mundo real, os indicadores não fazem sentido nenhum.


A derradeira pergunta é: em que mundo vivem as senhoras e os senhores que fazem tão alucinantes projeções?


E a verdadeira resposta é vivem num escritório com vista para a rua de uma estreita janela, para a qual raramente olham por não terem tempo de desviar o olhar dos indicadores presentes nos monitores dos computadores.

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