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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

Porque fugimos das mudanças?

Mudar gradualmente transforma-nos em pessoas renovadas e eleva as competências que usamos para concretizar o nosso potencial humano. Nesse caso porque evitamos as mudanças? Será que evitamos todas as mudanças ou apenas algumas? O que nos retraí e alimenta a ilusão da constância? O que nos atrai e nos faz ultrapassar a tendência de permanecer na mesma rotina? Continue a ler e para descobrir algumas respostas possíveis e outras imprevisíveis.


 

Primeiro uma pequena estória em 100 palavras, uma drabble.


Quando identificamos as diferenças


“As pessoas não querem mudar. Querem ter razão e afirmar-se. Mudar é doloroso.”

“Eu quero mudar!” respondi, totalmente embasbacada. Foi uma revelação.

“Então és uma exceção.”

Demorei a digerir e a aceitar as consequências desta descoberta.

“Porque é que não fez algo normal?”

Era inveja dissimulada de crítica às minhas saladas demasiado diferentes.

“Para mim é normal!”, não era para mais ninguém naquele grupo.

No fim do almoço tive uma certeza: não quero esta equipa!

Uns meses depois, a RioFala fechou, temporariamente. Na memória ficou o sentimento de tristeza e descrença na humanidade com que saí daquela reunião de equipa.


 

Toda a minha história pessoal e profissional está assombrada por mudanças. Ser diferente, fazer diferente, inovar, não temer ser contra a multidão e defender ideias no mínimo originais, sempre foi uma parte intrínseca da minha vida. Tudo isto acontecia tão naturalmente eu que nem pensava nisso. O episódio que relatei sucintamente na drabble foi um ponto de viragem na minha compreensão da importância da mudança na evolução pessoal de todos os seres humanos.


Depois de perceber porque é que a minha equipa não funcionava em sintonia e do que, inevitavelmente, nos dividia, a decisão de encerrar temporariamente a RioFala revestiu-se de uma força ainda maior – a minha certeza intuitiva foi confirmada por factos.


Aos poucos comecei a colecionar as falhas que nunca tinha visto, as divergências que nunca tinha procurado. É curioso como quando mudamos a nossa maneira de pensar sobre as pessoas e sobre as coisas, mudamos a nossa forma de estar no mundo. Isto é verdade apenas para os que têm a coragem de mudar.


Eu estive, durante muito tempo, envolvida na minha cura pessoal, entretanto fui aproveitando para descobrir o que mais me havia escapado no trabalho que fazia. O que levou à conceção do paradigma do desenvolvimento integral, mas essa estória fica para outro artigo.


O que me aguçou a curiosidade, e motivou este artigo sobre a mudança e a transformação pessoal, foi tentar compreender porque temos, nós humanos, tanta aversão à mudança. Para isso recordei quando comecei a pensar sobre isso e as linhas de pensamento que fui seguindo ao longo dos anos, até encontrar uma resposta que me convencesse integralmente.


Primeiro, constatei o que devia ser óbvio, o que todos devíamos saber pela experiência que temos das nossas vidas: mudar de hábitos tira-nos da nossa zona de conforto, obriga-nos a gastar muita energia cognitiva a pensar em algo que conseguimos fazer de forma automática se não mudarmos. Por isso, não mudamos por defeito. A rotina é um lugar seguro que não nos desafia constantemente. Sabemos o que é expectável dos outros e o que esperam de nós, logo não mudar dá-mos a ilusão de estabilidade, de segurança, e nem sempre de estagnação.


Na realidade isso é apenas uma ilusão coletiva. Quer as pessoas decidam ou não mudar(-se), a evolução da espécie humana não para. O que acontece é que quem não muda fica para trás.


Quem não muda também deve ter uma vida muito aborrecida… imagino eu…


Estas conclusões não são nada extraordinárias, sabemos que muitas pessoas se recusam a mudar de opinião. Ao mesmo tempo procuram experiências novas nas suas vidas. Cada vez mais a aprendizagem é feita ao longo da vida, e aprender é mudar.


Intrigava-me não compreender porque resistimos nós humanos a mudanças estruturais. E perguntava-me também a que tipo de mudanças oferecemos mais resistência, afinal mudamos de roupa diariamente (pelo menos eu faço isso, e já percebi que a maioria das pessoas é como eu nessa mudança).


Como sempre, fui investigando, ou seja, fui lendo umas coisas aqui e ali ao longo de uns largos anos e pensando sobre tudo.

Cheguei a algo factual, em que todos os cientistas concordam, as grandes dificuldades estão em mudar tudo o que está associado à nossa identidade. Crenças, preconceitos, tradições.


Isto fez crescer a rebelde que há em mim e fui à procura de preconceitos e crenças que precisavam de ser mudadas, em mim. Percebi que as tradições são menos difíceis de mudar se deixam de fazer sentido, por isso há que encontrar as razões para continuar a ser tradicional.

Procurei isso tudo e, I-MA-GI-NE… MUDEI! Portanto não é impossível mudar.

Depois conheci outras pessoas que também ambicionam ser melhores ao longo da vida e procuram um desenvolvimento pessoal recheado de upgrades. Talvez isso tenha restaurado um pouco da minha fé na humanidade, não na humanidade inteira, apenas numa parte mais sábia e corajosa, na qual me incluo sem falsas modéstias. É possível que sejamos pessoas em número suficiente para mudar o rumo do mundo. Ou talvez não, mas vamos morrer a tentar, porque isso é que é ter coragem.


A segunda conclusão a que cheguei é que a mudança provoca incerteza e que a incerteza enerva as pessoas, e que as pessoas quando ficam nervosas dormem mal, ganham rugas, quilos e doenças, e PI-OR… chateiam toda a gente e espalham infelicidade por onde quer que passem. São umas chatas!


Mas porquê? Porque é que a incerteza incomoda assim tanto?


Se uma incerteza incomoda muita gente, muitas incertezas incomodam muito mais. E quando as crises somam, seguem e interrompem os planos de vida pessoais, porque dão cabo da economia, imaginem a quantidade de pessoas que não ficam incomodadas com a mudança.


Eu incomodo. Tu incomodas-te. Nós passamos a vida incomodados.


Primeiro foi o Salazar, que teve o desplante de não mudar nada. A vida provou-o errado e ele mudou-se, desta para melhor, como se costuma dizer.


Depois, abrimos a janela e compreendemos que o mundo inteiro tinha evoluído menos nós, portugueses e ex-colónias portuguesas, que permanecemos sossegadamente agarrados às tradições e à "decência" ditada pela religião.


Como se veio a descobrir, a decência não se aplicava a todos, na verdade era só conversa e os meios religiosos abusavam das crianças e dos adultos em nome de deus. Porque era essa a vontade de deus, afinal deus é amor e isso… Não,… Espere,… Desculpe,… o amor é que nos garante que todo e qualquer abuso físico ou psicológico sobre os outros é diabólico e não divino! Afinal a culpa não é de deus…


Como dizem as beatas de sacristia “os senhores padres também são humanos e pecam como nós”. Se calhar, como não mudam nada há coisa de uns dois mil anos, ainda não tinham percebido que não era isso que deus queria.


Tal como eu, que às vezes (não muitas, mas acontece) também demoro a perceber as coisas. Uma vez, demorei meia hora a perceber que tinha de vestir um casaco porque estava frio. Sou humana!


Reconheço que as minhas minúsculas falhas não estão bem ao mesmo nível dos abusos de dois milénios da igreja católica e aposto que as suas falhas também não se comparam, pois não? Ainda bem para si! Porque a maldade paga-se muito cara e eu ouvi dizer que não são aceites cheques, nem cartões, nem dinheiro … o custo é outro.


A seguir a percebemos que estávamos atrasados ficamos com uma crise de autoestima, completamente desajustada da realidade. Para onde quer que olhássemos tudo o que era estrangeiro parecia melhor do que o produto ou serviço português. Afinal não era. Tínhamos a vista desalinhada pela história e pela tradição. Felizmente, ganhar o europeu de futebol foi mágico para a autoestima portuguesa.


Pelo meio vieram crises económicas, e quando a troica se foi, veio a pandemia, a guerra e a emergência climática em força. E agora, a ameaça da fome.


Resumindo, andamos a navegar na incerteza há… um, dois… cinco… hum, não tenho mais dedos nesta mão… Bom, andamos a navegar na incerteza há mais anos do que a memória me permite contar com os dedos das mãos. São muitos anos. Se quiser contar pelos dedos, conte em décadas, talvez consiga; eu não me vou dar a esse trabalho porque sou mais propensa à mudança do que às revisões da história.


Valha-nos a capacidade portuguesa para a navegação! Não fossem as atrocidades da escravatura à escala global, como navegadores nem nos saímos nada mal.


Se não andássemos quase todos com os nervos em frangalhos, a coisa até que nem estava mal parada, mas está. Porque como percebeu, estar parado implica não mudar de sítio e pode também implicar não mudar de rumo. Por outras palavras não evoluir.


Desde o covid-19 que só queremos voltar à rotina do passado. Mas que raio tinha a rotina de agradável? Andavam quase todos a queixar-se da vida! Mesmo assim, ninguém queria mudar. Será que viver mal era bom? Será que queixar-se de tudo e não fazer nada diferente é um traço da personalidade portuguesa?


Não, isso é um disparate porque a personalidade é pessoal, não se pode aplicar a todos os portugueses. Mas a imitação pode… andará meio país a imitar os outros?! É bem possível.


A grande descoberta


A mudança é demasiado assustadora porque não conseguimos imaginar o que não conhecemos. Na verdade, a mudança provoca uma crise de imaginação. E como a grande maioria das pessoas tem 1) baixa autoestima, 2) pouca criatividade, 3) medo de ser diferente da multidão, etc., não conseguir imaginar o futuro gera uma ansiedade gigantesca.


O medo da mudança é, na verdade, uma falha da imaginação.

Esta foi a minha grande conclusão. O medo da mudança é, na verdade, uma falha da imaginação.

Não conseguimos imaginar o que não conhecemos, tal como eu não conseguia imaginar que as outras pessoas não pensavam como eu, e que não estavam dispostas a mudar para se transformarem em melhores seres humanos. O desconhecido é o que nos impede de mudar, de transformar o mundo transformando as nossas vidas.


É o mesmo desconhecido que nos desperta para oportunidades que nunca antes tinham sido sonhadas ou pensadas. A não resistência à mudança leva-nos a descobrir que o mundo tem mais para nos oferecer do que aquilo que nos foi culturalmente endoutrinado.

Como por exemplo, descobrir que aquilo que todos pensam ser uma fraqueza é na verdade a nossa maior força. Uma descoberta só possível para quem tem a coragem de mudar e de ser diferente hoje do que era ontem. De fazer diferente amanhã, do que fez hoje.



Mudar a forma como encaramos a mudança tornamo-nos seres cada vez mais integrais. Isso é bom porque nos dá superpoderes. Lamento, vai continuar a precisar da TAP para voar (o superpoder não é esse) ser integral não pertence ao mundo da fantasia, pertence à forma de ser dos que não temem a mudança e a buscam incessantemente. Estes são os seres humanos que conseguem fazer a diferença no mundo. Venha pertencer a esta tribo!


Viva integralmente.



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