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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

O segredo da mobilidade lenta e regular na saúde integral que levo para a terapia da fala




O tempo passa a correr para todos, hoje em dia. Talvez porque todos andamos numa corrida contra o tempo e, inevitavelmente, acabamos por perder. É quando não corremos, quando nos movemos na lentidão que a saúde tende a despertar. Neste artigo vou contar-lhe o segredo da mobilidade lenta e regular na saúde integral que levo para a terapia da fala.


 

 

Fomos feitos para correr


Está provado que os seres humanos estão adaptados para correr. Essa adaptação tem a ver com a eficiência entre a respiração e a passada na corrida. Quando corremos libertamos hormonas nos músculos que nos fazem sentir bem. Quando corremos ativamos a relação simbiótica entre os ritmos da respiração e do coração.


Mas o que acontece quando passamos a vida a correr?


Fomos feitos para correr com rapidez por períodos de tempo não muito longos. A maioria da atividade física para a qual estamos adaptados é suposto ser lenta e prolongada.


Ao trazer um contante ritmo acelerado para as atividades da vida diária, fazemos disparar os níveis de stress e desgastamos o músculo cardíaco. Talvez não seja a melhor das ideias para garantir a longevidade saudável.


A vantagem da lentidão


Quando fazemos algo devagar ganhamos tempo.

Pode parecer um paradoxo, mas é como o nosso cérebro perceciona os estímulos à sua volta, e os integra para formar conhecimento (ou seja, para fazer sentido).


Depois da revolução industrial definiu-se, um pouco por todas as áreas e atividades da sociedade, que fazer algo o mais depressa possível era o melhor, o modelo a seguir para se ter sucesso e acrescentar valor social a qualquer tarefa.


As atividades que requerem tempo e dedicação foram relegadas pare segundo plano. Para o fundo da escala social foram os artesãos e artistas em geral, salvo as exceções dos mais famosos, os que lideravam as tabelas de vendas. A massificação da arte não diminuiu a produção de beleza, apenas a tornou mais valiosa. A beleza da arte produzida de forma lenta e com toneladas de dedicação é um luxo, da mesma forma que a comida produzida de forma lenta e se tornou uma obra de arte.


A lentidão dos processos de produção de um movimento elegante, um quadro, uma partitura, um romance ou ensaio, uma receita, uma peça de roupa ou calçado, etc. permite a inclusão da complexidade no processo criativo.


As obras transmitem a beleza que é a sinergia entre os sentidos.


Aprender a fazer requer lentidão


As ciências neurológicas explicam como no início de uma aprendizagem, fazer devagar torna a aquisição da aprendizagem mais rápida.


Porque é que tantas escolas não demoram o seu tempo com os processos mais básicos? Porque é que não dão aos alunos o tempo que o seu ritmo de aprendizagem pessoal requer?


Porque o ensino foi massificado e as escolas também são fábricas de produção em massa. Isto continua a ser verdade apesar de termos boas leis em Portugal. O desfasamento entre o que é legislado e o que é praticado reflete o desfasamento entre o conhecimento de quem fez a(s) lei(s) e o que quem é responsável por as executar diariamente, muitas vezes sem condições logísticas. Há um grave problema de falta de formação entre os educadores neste país, que faz com que os mais empenhados e autodidatas sigam e apliquem as últimas evidências científicas, das neurociências, por exemplo, enquanto a maioria recebe o que é disponibilizado pelo sistema, que mais vezes do que gostariam não responde às necessidades reais dos alunos.


Porque é que as práticas prolongadas são desvalorizadas na aprendizagem?


  • Por um lado, aprender algo novo requer força mental para lidar com o erro.


Quando estamos a aprender a fazer, errar é parte do processo.

Na sociedade em que vivo, o erro é visto como um defeito. O que significa sentimentos de culpa que são incutidos a quem erra – das pequenas às grandes questões da vida. Se erraste uma vez vais errar sempre, é essa a expectativa geral. A vida não é vista como um processo evolutivo.


Tens uma hipótese para fazer algo bem antes de receberes o rótulo de falhado. Ninguém se lembra do que fizeste bem (regra geral), mas podes ter a certeza que toda a gente se lembra daquela vez quem que ficaste com uma nódoa de molho de tomate na camisa azul clara, ou que cometeste uma gafe social na festa de fim d'ano.


  • A procura constante do sucesso.


Aprender algo novo pode ser desconfortável. É necessária a prática repetitiva de técnicas que serão o alicerce daquilo que conseguiremos fazer mais tarde, quando a aprendizagem estiver consolidada.


Muitas vezes, ter em vista o resultado final faz com que os processos iniciais não façam sentido.


A sociedade desvaloriza o tempo e o empenho que se coloca a aprender algo que não traga lucro imediato. Por lucro entenda-se não apenas dinheiro, mas o valor que está por trás do que se pretende aprender a fazer.


Se decido dedicar-me a uma nova aprendizagem que nada tem a ver com o meu trabalho, estou a roubar tempo ao trabalho? Ao que já faço bem e tem resultados? Que valor poderá isso ter?


A minha reposta é pessoal: valoriza-me com pessoa, torna-me mais inteira e mais humana.


Socialmente, o desenvolvimento pessoal continua a ser visto pela maioria como uma perda de tempo, uma extravagância. O que significa que há poucas pessoas que percebem o que significa ser verdadeiramente humano. Felizmente, isto é algo que já está a mudar.


O que levo para a terapia da fala da tendência evolutiva Slow?


Na terapia da fala, quer quando trabalho respiração, quer quando trabalho comunicação e linguagem, fala ou deglutição, dou aos meus clientes o tempo que eles precisam para consolidarem os processos precursores da competência que querem desenvolver.


Isso obriga-me a sair dos sintomas e a procurar as causas que estão na origem das dificuldades de desenvolvimento, ainda que estejam muito distantes do que é evidente para a norma. É um exercício complexo mas divertido, a procura das causas não-lineares de dificuldades que não são bem compreendidas pelo paradigma dominante.


É comum ter clientes com queixas de fala a trabalhar respiração, pessoas que querem melhorar a capacidade respiratória a fazer movimentos no chão (movimentos lentos, claro), ou até crianças com dificuldades de comunicação (com sintomas semelhantes ao autismo) a completar tarefas de atenção auditiva.


Ninguém compreende aquilo que não conhece e a primeira etapa para compreender algo é dirigir a atenção para o que queremos compreender.

O desenvolvimento humano não é linear, nem simples. Pessoas com os mesmos sintomas podem ter causas diferentes, enquanto pessoas com as mesmas causas podem ter sintomas diferentes. A personalização da avaliação e da análise caso a caso, requer tempo. Tempo que dedico a cada uma das pessoas que procura a minha ajuda.


A qualidade do que faço depende do tempo gasto em tarefas que são muitas vezes desvalorizadas pela pressa de resultados.

As evidências mostram que é o tempo gasto nas aparentes insignificâncias que acelera o processo de desenvolvimento integral de cada ser humano.


Da terapia da fala para a vida


Esta semana tenho uma proposta para si. Escolha algo que não goste de fazer mas seja necessário que o faça, ou uma tarefa ou atividade que ainda não domine, e faça o mais devagar que conseguir.


Dois dias depois vai perceber a diferença na execução e no processo mental para continuar a fazer a atividade. No desenvolvimento as dimensões motora/física e mental estão interligadas, porque o desenvolvimento é integral, quando respeitamos os processos naturais de desenvolvimento a transformação é sempre integral.

 

Viva Integralmente,

Andreia

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