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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

O que a Terapia da Fala me ensinou sobre inclusão e ecologia


Este artigo é sobre o que a terapia da fala me ensinou sobre inclusão e ecologia, ou será que fui eu que levei expandi estes conceitos e os levei para o trabalho? A linguagem pode ser paradoxal, por vezes, não sabemos bem onde um conceito acaba e outro começa, tal como na vida. O estudo da linguagem é o estudo da nossa humanização. É também o estudo das distorções que nos desumanizam á medida que nos afastamos da natureza e nos focamos em conceitos vazios. Esta não é uma perspetiva comum, nem simplista sobre inclusão, tem a certeza que quer continuar a ler?


 

Ecologia | Terapia da Fala | COP29 | Desenvolvimento Integral | Mudança de Perspetiva | Inclusão | Saber mais | Fazer a diferença | Longevidade | Sinergia


 

Quando separamos descartamos


A vida é feita relações entre sistemas, entre elementos, entre seres vivos, entre seres humanos.


Nada é separado, tudo o que existe está em relação com algo e tem o seu lugar no todo integrado. Destas multiplicidades de interações e relações nascem sinergias. As sinergias são o resultado final do que fazemos.


A evolução da vida na terra tem nos seres humanos a mais complexa das sinergias. O nosso desenvolvimento é integral.


Somos nós, os humanos que detemos o poder para cooperar e renovar as sinergias planetárias, criando mais vida e mais qualidade de vida. Somos também nós, os humanos que em rasgos de desumanidade avultada conseguimos destruir as sinergias vivas que nos renovaram ao longo da história evolutiva da humanidade e do planeta.


A questão é como se criam sinergias? Através da inclusão.


Quando incluímos as diferentes partes no todo, estamos a integrar. Quando excluímos algum elemento estamos a descartá-lo.


A integração é a cura. No que se refere à saúde humana, por exemplo, se negligenciamos uma parte de nós, não lhe dando atenção ou importância, vamos inevitavelmente acabar doentes.


A cura do planeta das nefastas consequências das alterações climáticas, requer a mesma estratégia integradora e inclusiva.

Esta é uma perceção da inclusão que abrange todo o espetro: deste a inclusão de todas as partes do organismo para a manutenção da saúde e da longevidade, até à inclusão de perspetivas de outras pessoas, outros povos, outras culturas com interesses “opostos”.


Tudo isto, vale a pena? Vale sempre a pena quando a alma consegue ver que sem inclusão a vida na terra está ameaçada de morte. Por muitas que sejam as diferenças, temos sempre um objetivo comum: reverter os efeitos das alterações climáticas para preservar a vida na terra, preservar a saúde das pessoas, animais e plantas.


A mudança não acontece só por boa vontade


A inclusão é um verbo e não é sinónimo do verbo falar.

O que dizemos e escrevemos, por muito bonito que seja, não promove mudanças concretas se não agirmos em conformidade.


E como tem sido amplamente discutido neste blogue: mudar é difícil.


Porque é preciso ter uma ideia de futuro e partilhá-la com quem não tem ideia nenhuma. A visão sistémica é apenas visível para quem a procura, e a norma mantém-se segura nas ideias de preservação do passado, sem se aventurar pelos desconhecidos caminhos criativos da inovação.


O medo do desconhecido vence muitas vezes a boa vontade. O desconforto de fazer algo diferente, que sai dos automatismos do dia-a-dia vence muitas vezes a boa vontade. Na prática: a boa vontade é uma vencida, não serve de grande coisa.


Perante estas derrotas racionaliza-se. Justificam-se as ações que contribuem para a destruição do planeta e da saúde global, com a desculpa comum de que uma pessoa não tem impacto suficiente. O que é mentira. Por muito que seja repetida continua a ser mentira. A verdade não muda quando a mentira é amplamente difundida, o que aumenta é a ilusão de cada pessoa que se afasta da verdade.


Quando repetimos uma mentira muitas vezes, criamos uma sociedade de pessoas iludidas.

Adormecidas num sonho que por muita boa vontade que tenham, vai acabar nem pesadelo. As desilusões não são fáceis de digerir, mas são necessárias para reencontrar o caminho da verdade.


Incluir não significa gostar de todos


Temos imensas pessoas diferentes no mundo. Culturas que não fazem sentido na nossa visão cosmopolita da vida. Crenças que consideramos antiquadas. Roupas e estilos que não estão na moda e nos ferem o olhar.


Nada disso é impeditivo de uma cooperação construtiva e, eventualmente, sinérgica. Não temos que gostar de tudo, apenas de aceitar as diferenças como parte de um todo integrado.


A inclusão não é feita pelo amor pelas diferenças. Ninguém ama doenças, ou limitações – a não ser pessoas com algumas doenças muito específicas.


A inclusão é feita pelo reconhecimento da humanidade apesar das diferenças.


Agir de forma inclusiva permite ver o potencial que ainda não é expresso. A visão da sinergia que ainda não existe. Os vários desenvolvimentos possíveis na construção de um futuro comum.


Da humanidade global para a terapia da fala


Ao pensarmos a inclusão dos povos num sistema global de cooperação, olhamos para a saúde em larga escala. A escala mais alargada de todas, na verdade. E pode dar-se o caso de não ser possível fazer muito por essa causa.


Na prática, a inclusão é construída quando a praticamos no dia-a-dia. Na pequena escala das nossas relações humanas locais.


O processo de desenvolvimento é similar, tanto para a sociedade global como para um ser humano único.

No meu trabalho, como terapeuta da fala, olhar para as diferenças normalmente significa ver os défices, muitas vezes associados a um diagnóstico.


A perceção do que nos distingue através daquilo que alguém não consegue fazer é a visão negativista da realidade. É uma visão que nos coloca num patamar de superioridade ilusória e que diminui a pessoa com que estamos.


Os meus clientes sabem que o diagnóstico é necessário e pedem-mo. Sabem também que o diagnóstico é apenas o ponto de partida. Todo o processo de desenvolvimento que vai ser promovido na terapia da fala tem como objetivo permitir a cada cliente ultrapassar as suas limitações e expressar a sua autenticidade, contribuindo para a complexidade social do mundo.


Tal como nas dificuldades de comunicação e linguagem, se no dia-a-dia não damos a vez aos que são parte de todo, só porque são diferentes, estamos a excluí-los e a excluirmo-nos da sua visão do mundo. Estamos a criar mais guetos (que são o equivalente aos aterros sanitários do lixo que não queremos, para pessoas de quem não gostamos ou com quem não nos identificamos). É o processo de desumanização.


O que sabemos da experiência de vida em sociedade é que tudo aquilo que descartamos não desaparece com por magia. Continua em algum lado a sua existência e vai acabar por condicionar a vida na terra.


Se para objetos ou coisas incluir significa comprar menos, para descartar menos. Para as pessoas, animais e plantas, incluir começa por conhecer mais, melhor, e não ter medo de mudar a nossa perspetiva integrando a visão divergente para enriquecer a na nossa visão pessoal.


E depois há a economia, em todas as considerações que têm de ser feitas para combater a crise climática. Um elo muito importante na cadeia dos valores humanos, como tem sido óbvio na COP 29.


Sem vida respirável não há economistas, por isso vamos repensar as prioridades? Segundo passo: a transição tem de ser feita, por isso a escolha é apenas do caminho mais rápido e com menores consequências nefastas. Não se coloca a questão de não destruir certas indústrias que são excessivamente poluidoras. É óbvio que há várias indústrias e serviços que não vão sobreviver porque se tornam obsoletas. Outras nascerão para dar resposta a novas necessidades que surgirão do estilo de vida ecológico e saudável que queremos normalizar.


Enquanto os valores humanos não estiverem bem definidos, os objetivos para a mudança desejável parecem sempre gigantes ou impossíveis.


Um estilo de vida integral, em que a natureza volte a ser respeitada pelo valor indiscutível que tem na preservação da vida humana.


Viva integralmente,

Andreia

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