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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

Na terapia da fala e na vida, como o paradigma do desenvolvimento integral nos ajuda a resolver problemas complexos



O paradigma do desenvolvimento integral aplicado à terapia da fala é a base que permite compreender e solucionar as mais graves perturbações de desenvolvimento infantil. O que escrevo neste artigo permite-lhe identificar um dos princípios do desenvolvimento integral e aplicá-lo na busca de soluções para as suas situações pessoais ou profissionais. Na terapia da fala e na vida, como o paradigma do desenvolvimento integral nos aguda a resolver problemas complexos é o que vai descobrir neste artigo. Continue a ler.


 

O que é um paradigma?


A palavra paradigma tem origem grega e significa modelo, teoria, perceção, pressuposto ou padrão de referência – só para o caso de não ter um dicionário á mão.


Na vida em geral, o paradigma é a forma como vemos o mundo, como compreendemos e interpretamos factos, situações, soluções. É nas soluções que o paradigma do desenvolvimento integral faz a diferença em relação a outros paradigmas.


Mas antes disso. Se considera que paradigma é uma palavra pomposa, cheia de pretensões, que só diz respeito a áreas científicas ou a pessoas muito cultas, pense outra vez.


Cada pessoa tem o seu paradigma pessoal, que é uma espécie de mapa que usa para navegar pelo mundo.


À medida que vamos crescendo e ganhamos maturidade os nossos paradigmas mudam, e os mapas que nos orientam passam a ser mais próximos da realidade como um todo. Deixando cair preconceitos, mitos, ilusões aproximamo-nos da verdade. O nosso paradigma reajusta-se criando mapas cada vez mais fidedignos.


Por que é que isto é relevante para a sua vida?


Porque se tiver o mapa errado não vai encontrar o caminho certo para si. É quando os nossos paradigmas têm mapas com a ilustração certa do território (da situação) que podemos traçar o percurso a fazer ao longo de um período de tempo para alcançar o destino final que definimos.


Os nossos paradigmas são as explicações que nos orientam, e estão profundamente enraizados na espiritualidade. Mesmo para pessoas que se dizem pouco espirituais, paradigma é compreensão, espiritualidade também.


O paradigma do desenvolvimento integral


Ao estudar o desenvolvimento humano, a interdependência de todas as nossas dimensões é clara. É também um dos princípios do paradigma do desenvolvimento integral. Neste paradigma vemos as dimensões e sistemas humanos como um todo sinérgico e interdependente. É esta visão global do todo que favorece a compreensão dos problemas mais complexos do desenvolvimento humano.


A palavra-chave deste paradigma é integração. Permite-nos compreender de que forma uma ou várias partes se integram em todas as outras.


O que conseguimos ver depende do lugar onde estamos.

Uma visão de 360º de um problema é muito diferente para alguém que está no fundo de um vale, e para outra pessoa que esteja no topo de uma montanha. Ambas as pessoas estão a ver o mesmo espaço de perspetivas diferentes.


O paradigma do desenvolvimento integral permite-nos ter uma perspetiva holística e integrada dos processos de desenvolvimento. O que nos garante acesso a uma visão que não é considerada por outros paradigmas que “não conseguem ver tão longe”.


Todas as revoluções em ciência começam com a rutura com a tradição. Descartam o modo antigo de pensar e os velhos paradigmas.


Um novo paradigma para a terapia da fala


Uma visão integral do desenvolvimento humano, aplicada à prevenção, ao tratamento e à investigação das alterações da comunicação, linguagem, fala, deglutição e respiração.


O paradigma do desenvolvimento integral é particularmente importante no tratamento das perturbações mais complexas do desenvolvimento. Onde sintomas e causas estão interlaçados em intricadas redes de comportamentos e incapacidades. O paradigma do desenvolvimento integral permite identificar as interdependências e começar a solucionar os problemas desde as suas causas.


No caos aparente das perturbações mais graves do desenvolvimento humano, o paradigma do desenvolvimento integral é a luz, não ao fundo do túnel, mas em todo o túnel. Compreender permite definir o que fazer para solucionar o que, com os velhos modelos de pensamento, não tinha solução.


A inovação que trago para a terapia da fala é assente num paradigma que permite ver cada ser humano como um todo e não apenas como uma doença, ou um conjunto de doenças. Isto dá-me uma visão das possibilidades de evolução de cada ser humano, minúsculo ou adulto, que me procura que para outros é considerada irreal.


A inovação tem sempre má fama entre os conservadores. Quando mais enraizadas estão as convicções das pessoas menos predispostas elas estão a mudar. O que faz com que a inovação seja vista ou como uma charlatice (uma ilusão ou mentira) ou, quando os resultados obtidos não podem ser questionados, a inovação é vista como milagre, acontecimentos místicos inexplicáveis. De facto, a explicação não está acessível a quem se rege pelos velhos paradigmas.


E para mudar de paradigma é preciso (1) querer e (2) vencer o medo de compreender que numa outra fase, o que fizemos ou pensamos ficou muito aquém do que sabemos fazer atualmente.


Fazemos diferente porque vemos o mundo por outras lentes.

Um dos princípios do desenvolvimento integral que aplico na terapia da fala


A função que pretendo desenvolver tem de ser trabalhada em todas as dimensões humanas: física, mental e espiritual.


Num dos locais onde trabalhei recebi uma família com uma criança com ataxia cerebelar. As causas do atraso no desenvolvimento são ainda desconhecidas, mas os sintomas estão inscritos em todas as ações da criança: dificuldade na coordenação motora.


A nível da fala o resultado é uma fala lenta, parece que a criança demora muito tempo a pensar.


Os movimentos da fala gastam tanta energia que a voz perde ressonância (e este nem sequer é um dos problemas identificados pelo velho paradigma!), a fala perde força.


No que toca à linguagem, a lentidão da fala diminui as oportunidades de participação ativa na vida, logo menos exposição a palavras, experiências motoras, didáticas, vivenciais. O que resulta em menos conhecimento e menor ativação neural das redes associadas à linguagem.


Um cérebro que está constantemente a impedir o corpo de cair não tem disponibilidade para investir em atividades concetuais. Toda a energia é aplicada na sobrevivência física.


O que me foi pedido, de acordo com o velho paradigma, foi para atuar diretamente na fala e na linguagem escrita, para que a criança conseguisse melhores resultados na escola.


Imagine a surpresa quando comecei a trabalhar respiração, braços, e linguagem tudo ao mesmo tempo. Ninguém percebia nada! Afinal a criança já tinha fisioterapia, não precisava ou será que precisava?


Precisava mesmo, até porque o que era feito na fisioterapia não era o que eu fazia na terapia da fala, era outra coisa que também incluía movimento. O problema das pessoas era que não compreendiam o que eu fazia, mas também não conseguiam contestar os resultados obtidos.


Conclusão: É MILAGRE! Poderá haver outra opção?!!


A verdadeira solução


O processo de desenvolvimento da fala tinha que começar pelo princípio, e o princípio da fala é a respiração. Quando uma criança não respira bem a fala está alterada – este é um facto incontestável!


O que perturbava a respiração, a fala, a linguagem, e todos os outros processos de desenvolvimento era uma alteração na integração/ativação do cerebelo, que na prática se traduzia por uma descoordenação.


Para ajudar esta criança foi preciso coordenar tudo com tudo. Coordenar as dimensões: física, mental e espiritual. A função é a mesma em todas as dimensões, o que significa que para curar tem de ser trabalhada em todas elas.


Da terapia da fala para a vida


Este paradigma não se aplica apenas à terapia da fala ou ao desenvolvimento humano. O desenvolvimento integral pode aplicar-se à economia, à saúde, à vida em sociedade.


Pode usar os princípios que aplico na terapia da fala à sua vida.

Identifique a área em que quer evoluir e trabalhe-a a nível físico, mental e surpreenda-se com a mudança espiritual.


Por exemplo, quer melhorar a flexibilidade mental. Trabalhe a flexibilidade física e verá a resultados a nível mental.


Outro exemplo, quer resistir à tentação de comidas de conforto que lhe dão cabo da autoestima sempre que se olha ao espelho: esqueça a comida e trabalhe a resistência física durante um mês. Vai descobrir que a sua resistência emocional e mental também melhoram, porque a função é a mesma e todas as nossas dimensões estão interligadas e são interdependentes.



O paradigma do desenvolvimento integral permite-nos viver vidas mais plenas por potenciar a expressão máxima do nosso potencial humano. Ao mudar começa a ver forças que nem sabia que tinha, porque com o velho paradigma não as conseguia ver (estava no fundo do vale).


Viva integralmente,

Andreia

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