Há palavras cujos significados damos por adquiridos e, caso não nos chamem a atenção, não voltamos a pensar neles. Tornam-se pressupostos automáticos, não os questionamos.
Ia continuar escrevendo “neste momento…”, mas pensei melhor. Mudança não é uma palavra do momento. Com pandemia ou sem ela, a mudança estará sempre presente e será sempre uma constante em todas as nossas vidas.
É a mesma ideia presente na expressão “não se pode parar o tempo”. (Pode-se atrasá-lo um bom bocado, parar … não.)
E por falar em expressões, só me dá vontade de rir quando as pessoas, tão bem intencionadas, me dizem ou comentam entre elas, “vamos mudar o mundo”, “não vais mudar o mundo”, etc.
Meus caros, tenho uma novidade que já não é nada nova: o mundo muda sozinho, façam o que fizerem, venha quem vier, o mundo muda. É uma constante lei da natureza. Tudo o que fazemos, tudo o que escolhemos não anula a mudança, não a evita, não a previne, não a pára.
Ninguém muda o mundo. Ele é autónomo, muda-se a si próprio.
O que é a mudança?
É o efeito da passagem do tempo. Num sistema traduz-se em uma nova organização.
A constante procura dinâmica de equilíbrio, faz com que o sistema integre a sua experiência de vida nas regras que o mantêm a funcionar.
O sistema é maior do que a soma das partes, e no momento seguinte uma das partes é o próprio sistema. Ou seja, o “algo maior” junta-se à soma. O que leva a um crescimento constante. Não um crescimento no sentido ascendente, mas uma nova organização, um novo todo.
A passagem do tempo visa a construção de novas compreensões. Que levam a transformações nas escolhas que se fazem. Num sistema natural, ou seja, num ecossistema a mudança é uma reação às condições de vida dos seus elementos.
As escolhas que fazemos a nível pessoal podem influenciar o rumo da mudança. Como tem sido largamente difundido, as alterações climáticas são responsáveis pelo aumento de fenómenos naturais extremos – o planeta reage às agressões da poluição. Não consegue evitá-lo. Não o faz por maldade ou para castigar os homens, não é uma vingança divina. É uma reação natural ao aumento de energia provocado pela poluição.
A forma natural de diminuir os fenómenos naturais extremos é diminuir os níveis de poluição. Cada um de nós pode fazê-lo com as escolhas ecológicas que regem o nosso dia-a-dia. E nesse sentido, não mudamos o mundo, mas permitimos que o mundo mude seguindo um rumo menos agressivo para a vida humana, animal e também das plantas.
O que é a mudança na prática?
“Se eu soubesse o que sei hoje…” – outra expressão espetacular que muitas pessoas gostam de evocar. A questão é: porque é que não sabia? Faltava integrar a experiência de vida no conhecimento.
Mudamos de opinião com a passagem dos anos, não porque fiquemos menos idiotas (alguns nunca ficam…) mas por nos posicionarmos numa nova perspetiva face ao dilema que estamos a viver.
Para muita gente ficar em casa fechada durante 15 dias é uma tragédia. Nos segundos 15 dias é imediatamente menos trágico. O sistema adapta-se. O sistema mais complexo de todos é o ser humano. Tem, por isso, obrigação de se adaptar melhor.
A adaptação à mudança das circunstâncias é tanto menos difícil quanto melhor a compreendemos. O sentido da mudança podemos escolhê-lo, a ausência de mudança não.
Com a idade acumulamos sabedoria e relativizamos a importância dos acontecimentos para as nossas vidas.
Agora imagine que as vidas são vividas através de um ecrã. Como é que a integração das experiências é feita?
A resposta: pelos olhos dos outros.
Este é um dos graves problemas da nossa geração.
O rumo que a mudança está a seguir, pode muito bem ser um rumo que nos torne a todos menos humanos. Ou não… tudo depende das escolhas que fazemos no dia-a-dia e da forma como decidimos viver as nossas vidas.
A desumanização de uns não tem de definir o todo. Mas vai definir alguma coisa… e é bom que estejamos alerta para esses factos.
Viva Integralmente
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