Ciberbullying de que são vítimas figuras públicas e pessoas menos conhecidas, é uma nova doença que resulta da mutação do bullying presencial.
Maladie – foi a palavra que me veio à mente com a divulgação do ciberbullying de que as figuras públicas estão a ser vítimas. (Não fazia ideia. Não sendo infoexcluída, a verdade é que escolho não seguir muitas das pessoas que trabalham em televisão e cultura, em geral, pois embora aprecie alguns dos seus trabalhos, o seguidismo diário é ensurdecedor. E muitas vezes vazio de conteúdo relevante.)
A sociedade está doente e este é “apenas” mais um dos sintomas dessa doença.
Se pensarmos bem, nem se pode dizer que seja algo novo. Está a transitar da vida real para o mundo virtual, com a impunidade que o online lhe garante.
As pessoas têm invejas, têm emoções negativas em relação a si mesmas e em relação aos outros.
Veem no sucesso de qualquer outra pessoa uma afronta, por salientar as suas desventuras. A falta de sal das suas vidas pequenas de significado.
Nos corpos bem feitos e expostos das figuras públicas, em vez de contemplarem a beleza humana, reconhecem o oposto delas mesmas. Uma ofensa à normalidade que só é possível porque “este mundo é muito injusto”. E na face das injustiças, declaram-se justiceiros maltrapilhos atacando indiscriminadamente a dignidade de outro ser humano.
O que me chamou a atenção, no tipo de comentários feitos, foi o machismo. Será que as mulheres querem ser machistas? Serão machistas sem terem a devida consciência disso, dada a imersão social? Ou estarão muitos homens/alguns homens a usar perfis femininos para libertarem as suas frustrações?
Após alguma reflexão, considero que devemos ter de tudo um pouco, como na feira, no entanto saliento uma realidade da qual não se fala muito – e eu não gosto de tabus, é defeito de fabrico – alguns homens sentem-se atacados na sua masculinidade por não terem ao “alcance” mulheres esbeltas como as que dão a cara nas revistas e redes sociais.
Na realidade, invejam o que imaginam ser a vida dos companheiros dessas mulheres bonitas, bem sucessidas, felizes na maioria das suas escolhas de vida. Invejam as boas memórias, as facilidades que acreditam que elas têm por serem bonitas. Atacam-nas ordinariamente nas redes sociais por ser o único meio onde têm a coragem de sequer lhes “falar”, pois na sua presença sentir-se-iam pequenos demais para dizer fosse o que fosse.
Os porquês dos porquês
A origem da maioria do sofrimento humano está no desconhecimento.
As pessoas não se conhecem, não reconhecem as suas forças e, em cada pequena falha assumem uma gigantesca fraqueza. Por vezes as fraquezas são de carácter, outras vezes são assumidamente físicas. E entre umas e outras há uma enorme confusão de interações e complicações que iluminam os dias da psiquiatria e da psicologia.
É muito fácil criticar o outro, há até quem diga que o ser humano desenvolveu a linguagem da profunda necessidade que tem de reclamar – um pouco de humor nunca fez mal a assuntos sérios.
A sociedade está doente por as pessoas estarem desorientadas.
Face à pandemia, às pressões que daí resultam, aos sonhos perdidos nas circunstâncias adversas, o sentimento de injustiça perante o sucesso dos outros assume uma relevância grande em pessoas naturalmente desequilibradas. E que não se assuma que esse desequilíbrio tem algo que ver com a classe social a que pertencem! As pessoas mais ambiciosas e, também, perigosas estão nas classes mais altas da sociedade, de todas as sociedades.
Sabemos, dos estudos que existem, que 4% da população é constituída por psicopatas ou sociopatas. Destes apenas 1% são criminosos violentos. Todos os outros circulam na sociedade a fazer mal às pessoas que estão à sua volta de forma dissimulada e, muitos deles, escalam até posições de poder. Apoiam obras de beneficência, dizem o que as pessoas querem ouvir para lhes agradar, criam uma aura de simpatia à sua volta e toda a imagem que transmitem é … pura mentira. Uma máscara que só deixam cair em meios muito restritos.
O que acontece, quando pessoas instáveis emocionalmente se defrontam com casos de sucesso que invejam, é desejar que essas pessoas bem-sucedidas pertençam a esse grupo maligno. O que justificaria todo e qualquer ataque verbal que lhes fosse dirigido. Uma pobre ideia de justiça!
De facto, o desconhecimento é uma fonte de infelicidade para toda a humanidade. O que vemos online e presencialmente, são reflexos desse sofrimento humano. E a primeira solução para esta doença está gravada na pedra, já desde os tempos da antiguidade grega, no oráculo de Delfos, “conhece-te a ti próprio”. E é também a máxima de quase todas as tradições civilizacionais que merecem respeito.
A moral e s bons costumes não se impõem por decreto, mas há situações de perseguição concertada que são crime e, como tal, devem ser legisladas. Ninguém tem o direito de ofender a dignidade do outro, atentar contra a sua moral e sair impune com isso. Impune perante a sociedade, entenda-se. Pois, emocionalmente, esse tipo de atitudes apenas aumenta o sofrimento de quem as pratica. A tormenta é autoinfligida.
Viva integralmente
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