Camarinha, um pequeno fruto de um minúsculo arbusto que existe, quase em exclusividade, na orla costeira de oeste a norte do território português. Um pequeno fruto desconhecido da maioria das pessoas e que está em risco de extinção. Que lições das camarinhas poderemos aprender para sermos mais resilientes? As propriedades terapêuticas da camarinha estão a ser cientificamente analisadas, eu continuo a dizer que são ótimas para a indústria cosmética, fazem maravilhas à pele. Será que preservar a camarinha vale a pena o esforço das pessoas envolvidas e do país? Venha daí, vamos descobrir as pérolas naturais das florestas costeiras portuguesas.
Poderá este país nunca parar de nos maravilhar?
Há um mito no que toca à evolução. Um mito que se propaga nas redes sociais e nas conversas casuais de café. Está tão culturalmente enraizado que, os menos avisados, nem dão por ele.
Agora que lê este artigo, considere-se uma pessoa avisada! Esteja alerta!
Culturalmente, pensa-se que apostar nos mais fortes garante segurança. Isso era antes! Era o que acontecia quando a segurança dependia dos músculos, e a força física era sinónimo de poder.
Sabemos que em algumas situações a imposição física ainda prevalece. Infelizmente não é possível abrir a cabeça das pessoas menos evoluídas e colocar-lhes um pouco de sabedoria e humanidade lá dentro. A evolução humana é sempre pessoal, e cada pessoa segue ao seu ritmo e vontade. As pessoas que se impõem pela violência e pela força, seja em que circunstância for, não evoluem quase nada desde a idade média... coitados!
No século XXI, vivemos a era da informação e do conhecimento, a inteligência e a sabedoria ditam as regras. Aprendemos ao longo da vida, evoluímos e tornamo-nos mais saudáveis e felizes com as conquistas da nossa evolução pessoal, sem atropelar ninguém pelo caminho.
A aposta no mais forte, aprendemos com a natureza, não é uma solução duradoira. É quando apoiamos os mais fracos que o sistema evolui e se torna inquebrável, no entanto esta parece ser uma ideia contraintuitiva e poucas são as pessoas que a aplicam na vida.
Ao fazer scroll nas redes sociais, encontramos vendedores de ilusões que nos dizem que devemos desenvolver os nossos pontos fortes e não os pontos fracos. Na verdade, ambos devem ser desenvolvidos.
Apostar na progressão dos nossos talentos naturais, reforça o que já fazemos bem. Contudo, trabalhar nos nossos pontos fracos torna-nos indestrutíveis.
Quando pensamos em obter lucros imediatos, a aposta nos pontos fortes é a que vai gerar mais resultados, mas quando ambicionamos a longevidade de algo, seja uma vida humana, seja um projeto, sabemos que as turbulências são inevitáveis, e apenas a manutenção de um equilíbrio dinâmico nos garante a força e resiliência necessárias para ultrapassar as crises que vão surgir.
Os prudentes equilibram as forças, para se tornarem mais resilientes e invencíveis. Os ambiciosos apostam em fazer bem apenas aquilo que já sabem fazer razoavelmente.
Como se aplica este equilíbrio à ecologia e à vida em sociedade?
Aqui, perto de mim, há um pinhal dunar místico. O pinhal dunar de Ovar, que tal como o pinhal de Leiria foi plantado com o duplo objetivo de conter as dunas e produzir rendimento para as populações locais.
A plantação do pinhal criou um ecossistema biodiverso com pequenos arbustos, ervas medicinais, cogumelos e vários animais que nele se foram instalando e criaram um pulmão mesmo ali, junto a dois dos concelhos mais industrializados do país: Ovar e Santa Maria da Feira.
Atualmente, há uma procura crescente por materiais naturais e algumas pessoas, com pouca visão de futuro, consentiram o corte irracional de parcelas do pinhal dunar sob falsos pretextos. A população impôs-se e esta questão aparenta estar contida, embora não esteja ainda resolvida. Mas o pinhal dunar tem outras ameaças, que não são humanas: as acácias. Plantas invasoras que se espalham pelo território e se apropriam dos recursos do solo, impedindo a propagação das outras espécies.
Se eu pensasse como a norma, acreditaria que para preservar o pinhal dunar teríamos de apostar na proteção dos pinheiros que são as plantas que definem o próprio pinhal. E estaria errada.
Como penso à ecologista, penso em sistemas, e sei que de acordo com as leis da vida preservando as plantas mais frágeis, nos locais onde ainda existem vai preservar todas as outras plantas e criar as condições para que a vida do pinhal se torne tão saudável que lhe confere poderes de indestrutibilidade biológica.
Essas plantas pequenas e, aparentemente, frágeis são as camarinheiras. O seu fruto é semelhante a pérolas e tem associada a si muita cultura popular e memórias de famílias.
As camarinhas estão também a ser estudadas cientificamente e já foram descobertos elementos que podem atuar na doença de Parkinson. Eu, considero que são excelente para a pele, que a indústria dos cosméticos naturais devia apostar na utilização do sumo das camarinhas para produzir cremes hidratantes e antirrugas. Há já alguns empreendedores que das camarinhas produzem licores e gin, compotas e chocolates.
Quando pensamos em ajudar o elemento mais fraco do ecossistema, aquele que está em risco de não sobreviver sozinho, pensamos uma visão integrada e a longo prazo. Pensamos na sustentabilidade e equilíbrio dinâmico, na saúde de toda uma população, pois sem árvores não há vida.
Pensar à ecologista não nos leva a agir nos sintomas, leva-nos às causas do problema: neste caso, as acácias.
Removendo as acácias damos às camarinhas uma hipótese de se propagarem naturalmente. Plantamos árvores nas clareiras que ficam livres, depois do corte das acácias maiores, para que as plantas que constituem o ecossistema natural do pinhal dunar crexam juntas. E ao ajudar o elo mais fraco fortalecemos todos os elos da cadeia natural que culmina com o que é mais visível, os pinheiros que constituem a maioria das árvores de grande porte do pinhal dunar.
Na vida em sociedade, como na natureza
Nas escolas falamos de inclusão, mais do que incluímos – infelizmente esta ainda é a realidade.
A inclusão passa pela criação de condições para que os elementos vistos como mais frágeis possam ter uma vantagem e o seu desenvolvimento possa ser benéfico para toda a sociedade.
Ao termos práticas educativas inclusivas estamos a favorecer todos os alunos, docentes e profissionais não docentes, porque quando construímos uma rampa todos podem usá-la para subir e descer, mas se construirmos uma escadaria em caracol vários humanos podem ficar impedidos de passar, e todos os outros têm de fazer mais esforço, gastar mais energia para subir e descer – não apenas as crianças, também adultos com mobilidade reduzida.
Na política temos uma situação idêntica. O partido fascista que tem vindo a crescer em Portugal é como as acácias: impõe as suas opiniões e não aceita mais nenhumas como válidas. Os que são iguais ou aceitam igualar-se a eles são acarinhados, todos os outros são brutalizados em comportamentos de bullying verbal e físico (como tem sido notícia a violência contra os jornalistas).
Por norma, não manifesto as minhas opiniões políticas publicamente, mas este caso é diferente.
O partido dito de extrema-direita, que na verdade é fascista, é uma verdadeira ameaça ao equilíbrio, já frágil, da nossa democracia. Ameaçar a democracia é o mesmo que retirar-nos as liberdades que demoraram tantos séculos a serem conquistadas. A ascensão deste tipo de ideologia é um retrocesso na vitória da inteligência e da humanização da vida em sociedade.
É o regresso da força física e da imposição do mais forte (neste caso o mais bruto) sobre todos os outros, os que são vistos como diferentes e considerados mais fracos. O imperativo da suposta justiça anticorrupção não é mais do que uma ilusão, porque aquele homem que não tem um pingo de elegância na alma, também não tem a mínima ideia de como se combate a corrupção, pois não tem uma visão sistémica da sociedade. Na ideia dele combater a corrupção é como cortar os eucaliptos ou as acácias: corta-se tudo o que está à superfície e já está. Bem, como qualquer pessoa com olhos sabe, no ano seguinte essas plantas crescem outra vez cheias de força.
Na corrupção, como em tudo o que requer uma intervenção sistémica, é preciso atuar nas causas e não apenas nos sintomas, e as causas nem sempre são visíveis. Aqui é a que inteligência ecológica nos dá uma vantagem, ajuda-nos a ver para além do imediato e resolver os problemas de verdade.
Este partido fascista é como as acácias, onde se propaga impede a presença de biodiversidade. Torna-se numa monocultura e destrói a riqueza que carateriza a natureza e lhe dá a sua verdadeira força: a diversidade.
Não vou dizer a ninguém em quem votar nas próximas eleições, mas vou dar-lhe o melhor conselho no momento, digo-lhe em quem não votar. Não vote na extrema-direita fascista.
A proteção dos elementos mais frágeis protege-nos a todos! Essa é a força social, humana, ecológica que queremos ver crescer para que as nossas vidas sejam mais saudáveis e sustentáveis e a nossa sociedade mais justa. Não se trata de igualdade, mas sim de equidade social.
Esta é a lição que as camarinhas nos ensinam. É uma lição que vem das profundezas da natureza. Implemente-a!
Viva integralmente.
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