Quantas vezes estamos tão agarrados às certezas que paramos de questionar. Este é um padrão cultural, não é propriamente uma “culpa” individual. Simplesmente, o medo da incerteza é tal que nos colamos às certezas que nos são dadas pela sociedade, ainda que sejam falsas, ainda que não as tenhamos vivido na primeira pessoa. Seguimos o grupo, pensando que tanta gente não deve estar enganada. E se estiver?
Longe vão os tempos em que todos viam os mesmos programas de televisão, às mesmas horas, e os comentavam no dia seguinte com os colegas de trabalho ou companheiros de café.
Atualmente, a probabilidade de vermos os mesmos programas é diminuta, dado que a oferta de programação televisiva aumentou, temos ainda os computadores e a internet cheia de entretenimento.
Se por acaso escolhemos os mesmos programas e os queremos comentar, já não esperamos pelo dia seguinte, nem pelo conselho da almofada, usamos as redes sociais e os telemóveis e trazemos os colegas de trabalho, de café, os amigos, toda a gente, para dentro de casa sejam as horas que forem.
O mundo mudou
Mudou porque a tecnologia nos facilita a vida de muitas formas, e com as facilidades numas tarefas vem a disponibilidade para outras que antes não fazíamos. Todos mudamos com o mundo, sempre que nos adaptamos à tecnologia. Será que temos todos consciência das implicações dessas mudanças? Será que temos noção do tipo de mudanças que vamos fazendo acontecer ao longo da vida? Será que podemos escolher livremente em que mudar se não tivermos essa consciência e essa noção?
Não me parece.
Uma das tendências do desenvolvimento humano é a educação ao longo da vida. O facto de acrescentarmos o ao longo da vida à educação muda a forma como a educação é feita. E nada voltará a ser igual…
O que é que nos muda?
O que lemos, o que ouvimos (nem tanto, só conversas que façam sentido), o que escolhemos para nos entreter.
Muito tem mudado em Portugal. Muitas pessoas deixaram de escolher os jogos de futebol e rotinas familiares foram mudadas à conta disso. Os filmes e as telenovelas deixaram de ser vistos em família. E as pessoas tendem a autoeducar-se recorrendo cada vez menos ao apoio de terceiros.
Traduzindo: em consequência da tendência de desenvolvimento humano educação ao longo da vida as pessoas estão mais autónomas e os conteúdos em que se educam são substancialmente diferentes. Cada pessoa persegue os seus próprios interesses de crescimento pessoal e profissional.
O que muda com essas diferenças?
Temos pessoas com a mesma profissão e com perspetivas substancialmente diferentes em relação a questões profissionais.
Em equipas profissionais, as diferenças de perspetiva são uma mais-valia pois geram processos mais criativos, maior adaptação à realidade, diminuem o rico de pontos cegos. Claro que este efeito depende da liderança e da cultura da equipa.
Nas famílias poderemos adivinhar discussões mais acesas devido às diferenças de opinião, mas também um maior crescimento pessoal e uma melhor preparação para a vida em sociedade. Estes resultados só podem ser esperados nas famílias que mantêm a comunicação. Algo que não é de todo um dado adquirido, já que grande parte da vida familiar se passa com cada elemento ligado ao seu ecrã.
De certa forma podemos dizer que cresceu o individualismo, mas não no sentido negativo de cada um por si. Cresceu o individualismo na formação pessoal de cada um, as limitações à conquista dos interesses pessoais foram reduzidas pela facilidade de acesso à informação.
E se na idade média tínhamos a classe aristocrática e os clérigos a ingressar por caminhos inexplorados de conhecimento com leituras individuais, atualmente temos o mesmo processo acessível às massas.
E as necessidades?
Certo, as pessoas procuram autoeducar-se não apenas por gosto pessoal mas também por demandas profissionais. A rápida evolução tecnológica, as múltiplas publicações científicas fazem com que todos nós tenhamos necessidade de nos manter atualizados. Sob pena de a falta de atualização profissional nos deixar em desvantagem face aos nossos concorrentes.
Combinando os dois elementos, odisseia pessoal e necessidade profissional e, embora em menor escala, necessidade social temos como uma das tendências do desenvolvimento humano a educação ativa ao longo da vida.
Não basta uma reflexão pessoal e uma certificação inicial para fazer de cada um de nós um ser completo e capaz de se mover no mundo atual. A educação formal ou autodidata é um dos trunfos para o sucesso quer ao nível pessoal, quer ao nível profissional.
O que fazer com esta tendência?
Educar mudou, é preciso educar para a mudança. Os alunos têm maior participação no seu próprio estudo, envolvendo-se na resolução de problemas, na busca de informação pertinente, na redação de conclusões.
O tempo em que os professores ensinavam como os padres já acabou há muito (espero eu!), mas aos que persistem nessa forma de ensino, despejando informação para que os alunos as reproduzam têm insucesso garantido. A informação tornou-se disponível e, maioritariamente, gratuita, a memorização deixa de ser um fator de sucesso, pois as nossas memórias são externas e estão online. O que determina o sucesso de uns em detrimento de outros é a capacidade de resolução de problemas e a diversidade de compreensão de diferentes temas.
Se por um lado temos a sub-especialização como fator diferenciador, por outro temos a diversidade de saberes como necessidade para uma perceção do real mais ajustada à verdade.
E que ninguém se iluda, cada vez mais as profissões de futuro são profissões que envolvem a resolução de problemas que os algoritmos não são capazes de solucionar.
No que toca à educação para a vida a nível de desenvolvimento pessoal, as pessoas buscam cada vez mais a felicidade. E nessa busca usam os recursos que têm disponíveis para solucionar as suas próprias vidas. É uma busca continua… estamos em constante processo de aperfeiçoamento. Somos humanos. Mudamos e buscamos a mudança para sermos cada vez mais humanos.
Esta tendência de educação ao longo da vida resulta da necessidade de aprendizagem ao longo da vida. E é um desafio à aceitação da diversidade e da diferença. Não das diferenças imediatamente visíveis, mas das diferentes formas de pensar.
Aprenda integralmente, seja feliz!
Viva integralmente
A mudança é uma constante. Educar para a mudança é preparar para a vida. É educando-nos a nós mesmos para as adaptações que temos de fazer na maneira de pensar e agir, que crescemos.