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Finalmente dirão muitos.
Porquê? - Acrescentarão outros.
Eu pensei bem na minha estratégia de comunicação para as redes sociais. Quero que, tal como em tudo o resto, também as minhas ações online sejam um reflexo das minhas convicções. Uma imagem de mim, do meu perceber do mundo, do meu ser.
A verdade é que eu percebo toneladas sobre comunicação.
(Aqui não vai encontrar falsidade, nem na modéstia!)
O exponente máximo da eficácia na comunicação é a comunicação integral e essa pressupõe trocas presenciais. Com os vídeos a comunicação é, no mínimo, fracionada, incompleta, deferida, no entanto são um bom veículo para transmitir a informação que me pedem sem ter de repetir as mesmas ideias constantemente.
Se por um lado pensei que quando escrevo também a comunicação é unidirecional. A verdade é que dentro do espetro da linguagem escrever e falar são dois verbos diferentes. Ler implica deferimento no tempo; alguém escreve, para que mais tarde outra pessoa leia. Falar requer que haja alguém para ouvir em simultâneo. Falar sozinha para um ecrã de computador é completamente antinatural para mim, no entanto é um das versões do processo de comunicação. É muito pouco Andreia. Mas foi uma concessão que acabei por fazer em prol de um bem que eu considero ser maior para a sociedade como um todo.
Regressando ao tema deste artigo, quero explorar consigo a vida num mundo em que as pessoas não se podem tocar.
Como é uma vida assim? Que implicações tem em termos de saúde? Como podemos ajudar-nos a nós próprios a ultrapassar as dificuldades causadas pela ausência de toque?
Como referi algures: comunicação. Um tema sobre o qual nunca me canso de escrever. Talvez por ser a base de tudo o que fazemos; talvez não precise de razão nenhuma para gostar de algo… vamos pela segunda opção.
Na era covid-19 uma das proibições é o contacto físico através do toque em relações sociais que não sejam de proximidade, domésticas. Quando falamos em comunicação raramente nos apercebemos que é através do toque que comunicamos imensa informação sobre nós.
Os apertos de mão, os abraços, os beijos que trocamos socialmente não se tornaram hábitos de etiqueta social por serem bonitos como um espetáculo de dança. Enraizaram-se no nosso comportamento por permitirem o processamento imediato de uma grande quantidade de informação.
Num aperto de mão sentimos a temperatura corporal, o nível de eletricidade presente nas camadas mais superficiais da pele e, instantaneamente, detetamos o estado de espírito da outra pessoa. Se está irritada, se está calma, as suas emoções contagiam-nos mesmo antes de defenderem a sua opinião ou concordarem com o que lhes propomos. Sabemos de antemão se estamos perante um adversário ou um aliado, e ajustamos as nossas respostas à situação.
De um abraço recebemos a segurança física e o nosso estado de alerta diminui, relaxamos, ficamos mais calmos. Tudo isto é físico, tudo isto é processado pelo sistema nervoso de forma subconsciente.
Sintetizando: o toque dá-nos segurança física e prepara-nos para ação.
Quando as circunstâncias nos exigem distanciamento social, nos bloqueiam o acesso esta informação tão primitiva do ponto de vista evolutivo, a mente entra em hiperfunção.
A isto juntamos a incerteza relativa ao dia de amanhã, e depois de amanhã, e do próximo mês, e do próximo ano,… e temos uma perfeita tempestade dentro das nossas cabeças habituadas a ilusões que, por serem generalizadas, garantiam a confiança de que tudo ia bem.
A verdade é que, mesmo antes, da pandemia nos trocar as voltas ninguém tinha certeza alguma em relação ao dia de amanhã.
Os indicadores económicos não previram a crise de 2008 pela mesma razão que não relevaram a real situação económica do país. Os indicadores refletem um estilo de vida que é uma espécie de álbum de fotografias de uma parte da sociedade. A vida social não se define em instantâneos, é dinâmica, quando muito precisaríamos de um vídeo e não de um álbum de fotos para a analisar. Por outro lado, há toda uma realidade da economia informal que nunca aparece nas fotografias. É como se fosse invisível para a economia. Por isso todas as certezas que ilusoriamente tínhamos em relação ao real estado do país estavam erradas.
O mesmo se passa no resto do mundo, Portugal não é caso único. Cá dentro o que vimos foi o quadruplicar dos pedidos de ajuda alimentar e de outras necessidades básicas ao fim de menos de um mês de confinamento. Economicamente o que é que isso nos diz da situação real do país? É a mesma mensagem que passam os tradicionais indicadores económicos?
Assistimos a repetidas afirmações de que a economia ia bem, estávamos a recuperar. Será? A economia ia bem para quem? Para quantas pessoas? Ou será que os défices estruturais da economia portuguesa nunca foram alvo da atenção dos economistas? E será que a população num desespero de uma crise prolongada se contentou com salários mínimos e sonhos postos de lado?
Quando as crises se prolongam no tempo, as pessoas entram num estado de stress tal, que até deixam de saber sonhar. Sonhar deixa de ser uma prioridade, é preciso sobreviver.
O que tínhamos antes da pandemia, a ocupar as primeiras páginas de todos os jornais, era um país de sobreviventes. Algo que muito nos deve honrar e orgulhar! Mas não nos deve iludir ao ponto de acreditarmos que temos algum tipo de segurança económica. Como se está a ver…
A ausência de toque, a ausência de trabalho, a ausência de garantias face ao futuro próximo, todos esses vazios de saber aumentam a ansiedade do ser humano. A nossa saúde mental fica perturbada, em alguns de forma patológica, noutros nem tanto, mas ficamos todos afetados.
A ausência de contacto através do toque leva o cérebro a aumentar a velocidade de processamento à procura de outras perceções que garantam a segurança. As circunstâncias sociais de contactos online e a ausência de lideranças, que tão bem foi apontada, não permitem sossegar a mente. Demasiadas novidades, instabilidades, e as pessoas não sabem como responder.
Com o passar do tempo vamos restaurando o nosso equilíbrio interno.
Um dado curioso, é que, a nível mundial, a adoção e compra de animais de estimação aumentou. Na ausência de toque humano os animais representam benefícios para a manutenção da saúde. O tocar, cuidar, brincar com os animais dá ao nosso sistema nervoso parte da segurança perdida.
Se pensarmos em termos de linguagem temos dois conceitos que podem ser confundidos por estarem tão conectados: insegurança e incerteza.
Clarificar as diferenças é uma das formas de acalmar a mente. Incerteza em relação ao futuro não é o mesmo que insegurança física, embora o cérebro as trate como iguais.
Se muitas dificuldades de processamento resultam de desconexões entre conceitos, neste caso o afastamento é positivo. Incerteza e insegurança não são sinónimos, mas o nosso sistema nervoso pode tratar uma e outra como se fossem. Os efeitos sendo os mesmos amplificam-se num ciclo vicioso de desequilíbrios que pode levar a estados de esgotamento.
A solução é metacognitiva: usar a linguagem para ensinar o cérebro a processar melhor, adaptando-nos às circunstâncias que não podemos mudar. Numa abordagem integral as soluções metacognitivas levam a novos comportamentos físicos, mentais e destes resulta um novo estado de espírito.
Quando dar um toque passou a estar associado a chamadas telefónicas, a importância de tocar para que a presença de alguém se fizesse notar era uma realidade bem diferente da atual. Noto, contudo, a transição de um conceito do mundo real para o virtual, seguindo a mesma linha evolutiva da vida social que há tantos séculos assegura a estabilidade emocional do homo sapiens. Num reflexo da nossa inteligência social expandimos o espetro do conceito de tocar.
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Viva melhor, viva integralmente.
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