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Foto do escritorAndreia Ferreira Campos

Como ser visionária/o?

Todos queremos fazer a diferença, mas poucos se aventuram a fazer diferente. O que faz com que umas pessoas abracem a mudança como parte integral das suas vidas e outras não? Será a coragem ou a falta dela? Será o medo e a necessidade de se manterem agarradas a algo que as lhes dá uma sensação de segurança, ainda que não seja real? E o que nos faz mudar como sociedade? Continue a ler para descobrir novas possibilidades de resposta para perguntas eternas.


 

Andamos constantemente a queixar-nos das nossas circunstâncias: das repetidas crises financeiras, da crise climática, das guerras, das políticas e dos políticos, do que se faz e do que não foi feito. Em geral as pessoas queixam-se dos outros, queixam-se da vida que não segue o rumo planeado por elas, e têm dificuldade em ver nos imprevistos novas oportunidades de viver bem, por vezes, viver ainda melhor do que os seus planos tinham antecipado.





Quantas vezes insistimos em manter um mundo à imagem dos nossos planos e ignoramos a verdade, agindo como se não existisse?


A felicidade não é um plano, é um sentimento.

Não planeamos o que sentimos, vivemos a experienciar os muitos sentimentos que a vida e as suas circunstâncias nos proporcionam.


Por vezes, nas circunstâncias mais inesperadas descobrimos a nossa verdadeira essência. E a forma como encaramos o futuro muda radicalmente. A nossa visão do futuro muda connosco.


Como referi no artigo anterior deste blogue, a resistência à mudança resulta muitas vezes de um défice de imaginação. Vou partir do princípio de que tenho razão.


Para ultrapassar um défice de imaginação não basta compor um belo quadro com os elementos que temos. É necessário procurar o desconhecido e torná-lo conhecido. Juntar mais elementos à imagem que temos do mundo. Desta forma expandimos a nossa visão da realidade e reorganizamos as nossas perceções.


Para isso, com a coragem detectivesca dos mais capazes, damos uns passos para descobrir o que não sabemos e, só depois, escalamos o ângulo da descoberta do que não sabemos que não sabemos.


Uma imaginação fértil é fonte de imensas inovações e progressos, por isso devemos constantemente alimentar a criatividade.


São muitos os processos a seguir para se ser uma pessoa mais criativa, e há imensas pessoas criativas. O que nos leva a colocar uma nova pergunta:


- Porque não surgem mais mudanças significativas e novas soluções para os problemas mais velhos que teimam em repetir-se?


Talvez uma resposta seja: para aderir à mudança como processo de desenvolvimento pessoal, ultrapassando os obstáculos naturais a pensar e fazer diferente, os seres humanos não precisam apenas de novidade: precisam de uma visão. E não há muitos visionários credíveis entre os mais de 7000 milhões de nós.


Como tornar-se um visionário?


Os visionários alimentam a criatividade com a verdade. Desta forma constroem uma visão do mundo com base nos elementos reais. As suas teorias e perspetivas criam tendências porque se baseiam numa análise integral do ser humano e do mundo em que os estranhos seres humanos vivem.


É surpreendente ver o que todos veem e pensar o que ninguém pensa. Bom, na ver-da-de… não vemos todos as mesmas coisas. A capacidade de reter informação depende daquilo a que prestamos atenção. Se não procuramos os elementos que melhor definem o real, perseguimos ilusões. É isso que acontece com as visões simplistas de pessoas que acreditam em partidos de extrema-direita, por exemplo.


Surgir com soluções simples para resolver problemas que sempre foram complicados é o que define a mestria de alguém relativamente a um ou vários temas. No entanto, as soluções coletivas têm de solucionar os problemas de todos, ou do máximo de pessoas possível, sem prejudicar outras. E como já deve ter percebido, isso não existe!


Os problemas complexos não se resolvem com uma solução simples, vão-se resolvendo com um conjunto de pequenas soluções que ao serem implementadas tenham um efeito sistémico.


Isso implica uma constante reformulação do problema que há para resolver. Ou seja, uma constante mudança de circunstâncias e de soluções. Tal como com as estações do ano, estão sempre a mudar, a complexidade dos problemas também muda a cada ação que fazemos para os resolver. O que significa que o problema que tentamos resolver no início de um processo, não é o mesmo problema que resolvemos no fim – se tivermos sucesso.


Ponto de situação: já referi vários obstáculos à mudança, o que expande o que já tinha escrito no artigo anterior, mas como mudar na prática? Em que verbos se traduzem as mudanças efetivas?

A mudança (seja ela qual for) requer o envolvimento de todas as partes: as que conhecemos e as que não conhecemos. O processo de mudança é a inclusão. E traduz-se no verbo incluir.

Já ouço disparar as críticas: “a inclusão não é isso!”.


É sim! A inclusão é um processo de incluir na nossa visão da realidade todos os elementos que nos permitam definir a visão que temos de acordo com a verdade.


A verdade nunca é pessoal, é sempre integral.

Para sermos verdadeiros, há que assumir o compromisso de não mentir – esse é sempre um bom ponto de partida – mas quantas vezes mentimos a nós mesmos criando ilusões que alimentamos por teimosia, medo, tristeza, coerência, ignorância… e tantas outras desculpas que podemos encontrar, e que não mudam nada?


Quando eu era católica, participei em várias iniciativas para ajudar os mais desfavorecidos, os pobrezinhos.


Nessas reuniões as pessoas, que supostamente estávamos a ajudar, eram vistas como seres menores. Incapazes de governarem as suas próprias vidas, de decidirem o que era melhor para elas. Por isso, os que se consideravam superiores e julgavam, constantemente, pessoas cujas circunstâncias de vida não compreendiam, decidiam como os seres inferiores deviam viver.


O que devim comer, que tipo de ajudar devim receber, que escolhas fazer. Sem lhes perguntar se preferiam qualquer outra ajuda ou qualquer outro alimento no cabaz. Os pobres não tinham direito de escolha, a sua perda de liberdade era quase total. Não tinham voz, não tinham voto na matéria que era a sua própria vida. E por isso não mudavam, não tinham como mudar. Estavam sempre dependentes dos seus “benfeitores”, sentiam-se sempre inferiorizados na sociedade.


Não havia inclusão nenhuma, porque as pessoas não eram ouvidas. Nem sequer havia paciência para as ouvir. Partia-se do princípio que não sabiam o que diziam.


É o que continua a acontecer nas organizações dogmáticas que nos querem impor uma fé ou um modo de vida convencionado. Roubam-nos o nosso direito de escolha e dizem que essa é a norma. É o melhor para nós que, coitadinhos, não sabemos o suficiente… e quando seguimos as suas visões-ficção acabamos, inevitavelmente, desiludidos.


Das constantes injustiças surgem mudanças sob a forma de revoluções!


As revoluções acontecem quando as pessoas não aceitam a perda de liberdade e direitos dos quais outras pessoas abusam. Veja-se o que está a acontecer em Gaza. Ou, mais próximo de casa, o que aconteceu a 25 de abril de 74.


As revoluções são diferentes, umas são pacíficas, outras não. O princípio que as inicia é o mesmo: a injustiça leva a uma procura de mudança.


Há quem defenda que as pessoas apenas mudam quando estão em sofrimento. Essa é a visão curta da mudança.


Quando há sofrimento as mudanças são convulsões, que nos ferem e fazem sofrer todos à nossa volta. São mudanças-doenças que têm de ser curadas para se restabelecer um novo equilíbrio. Como são doenças novas não há curas prontas, o que leva a longos períodos de tentativas e erros para encontrar as curas certas.


A mudança sem sofrimento chama-se desenvolvimento. Leva a processos de harmonia, reflexão e integração do novo, leva à paz. Da paz interior à paz social.


Para conseguirmos essa paz temos de olhar para o mundo como visionários: buscar a verdade que vem do real aqui e agora, e depois projetar um sonho que estenda a todos, ou pelo menos a muitos, a paz interior que entretanto conseguimos.


Não é possível transformar a sociedade quando sangramos na alma. Não é do sofrimento que saem as coisas boas que serão muito valorizadas socialmente. Do sofrimento sai dor. Para mudar é preciso transcender a dor. Curar primeiro, mudar depois. Outra sequência de eventos leva a guerras, discussões e eternas confusões.


Onde há tumultuo não há apenas opiniões diferentes, há claramente uma falha no acesso à verdade. Na ausência de verdade, ou de admissão da verdade quando a conhecemos mas não gostamos dela, por outras palavras, quando a mentira vai mais ao encontro dos planos de alguém, as discussões multiplicam-se. Fala-se, discorda-se, repete-se, repete-se outra vez, repete-se tantas outras vezes, … é uma eternidade de problemas que parecem não ter solução.


Os problemas que não têm solução são os que não existem. Quando fingimos que o problema é um e sabemos que na realidade é outro, estamos a tentar resolver problemas fictícios. É normal que esses problemas não tenham solução, porque não existem.


Esta visão nebulada da realidade faz com que muitos dos problemas sociais que tantas boas almas tentam resolver nunca desapareçam. Anda-se há séculos a tentar resolver os problemas errados.


À luz da complexidade das teorias sistémicas, compreender a causa não significa que se descubra a solução do enigma. Descobre-se o rumo a seguir, descobre-se em que direção ir. À medida que se começa a solucionar o problema ele transforma-se e temos de ajustar as respostas ao longo do caminho.


Na complexidade caminha-se na incerteza, sem medo porque a verdade guia-nos melhor do que a estrela polar. Os visionários são os que identificam a verdade na complexidade e definem caminhos para solucionar problemas complexos com muitas pequenas mudanças que isoladamente nada fariam, mas que no seu conjunto, mudam tudo.


Procure a sua visão integral da realidade.

Viva Integralmente.

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