A educação ao longo da vida é uma tendência global. Nas sociedades mais evoluídas as pessoas não vão para a reforma, mudam de ocupação. É assim que acontece nas chamadas zonas azuis, as localidades do mundo onde as pessoas são mais saudáveis e têm vidas mais longas e ativas. Como se constrói uma sociedade saudável? Vou deixar algumas pistas neste artigo.
Aqui “perto de nós”, temos duas zonas azuis: Icária, na Grécia, e Sicília, em Itália.
Seja realista, não pensaria em nenhuma destas regiões se lhe perguntassem quais são as sociedades mais evoluídas do mundo, pois não?
Muitas vezes quando pensamos em evolução consideramos a acumulação de riqueza e a quantidade de tecnologia disponível. Talvez a evolução não seja bem isso!
Ainda que não haja nada de errado na cultura urbana, em que as inovações tecnológicas têm um papel muito relevante, a evolução humana não está diretamente relacionada com as transformações cosmopolitas das grandes cidades – por mais importantes que sejam para a sociedade global.
As grandes cidades, em geral, tornaram-se locais onde se acumulam poluição, desigualdades de todo tipo, stress, competição entre pares, e… doenças crónicas.
Numa grande cidade o consumo de medicação para diabetes e colesterol, tensão arterial alta e “sangue grosso”, insónias e depressão, são altíssimos. Já para não falar nas drogas recreativas e medicação sem receita médica, o chamado mercado negro, ou se for em Portugal, a economia paralela.
Então, porque pensamos em grandes cidades ou países ditos ricos quando nos perguntam sobre evolução?
Talvez por associarmos a evolução ao sucesso financeiro e aos avanços tecnológicos.
Talvez porque não pensamos, nem sabemos o suficiente sobre a evolução do ser humano.
Nós humanos evoluímos quando temos saúde e aprendemos algo novo, seja essa aprendizagem desencadeada por razões de adaptação/necessidade ou gosto pessoal. A aprendizagem faz parte da nossa evolução, essa é uma das razões porque a educação é uma das tendências globais do desenvolvimento humano, porque como vivemos cada vez mais tempo, evoluímos durante muitos mais anos, estamos a aprender ao longo de toda a vida. Isto é… se tivermos saúde.
As sociedades mais evoluídas são aquelas em que as pessoas têm vidas longas e saudáveis. Estas são as sociedades em que o potencial de felicidade é maior.
Ser feliz é o segredo da longevidade que a ciência começa a desvendar. Nas zonas azuis as pessoas que têm vidas mais longas são também as mais felizes, e autónomas durante toda a vida.
Componente espiritual na saúde, faça o favor de entrar em cena
O sentido da vida de cada pessoa.
A necessidade de transcendência de Maslow, que surge no topo da sua pirâmide de necessidades, está inscrito no design humano.
Não é ditada por regras e doutrinas, é uma descoberta individual. Esta descoberta é desenvolvimental, tal como o desenvolvimento da linguagem, aliás – surpreenda-se! – a espiritualidade está relacionada com a linguagem.
A conexão com a natureza e com os seus ciclos, parece desencadear uma relação mais próxima com o transcendente, o que dá ao sentido individual da vida, uma vertente comunitária e ecológica, um contributo muito bem definido para o bem comum.
Tudo isto significa que: as pessoas felizes são pessoas muito bem resolvidas com a vida, seja qual for o seu estrato socioeconómico.
A questão que se coloca é como inovar na educação para seguir as tendências evolutivas da humanidade? E para que mais pessoas consigam ser felizes de verdade e não apenas nas fotografias do instagram.
Podemos educar para a felicidade? Educar para a saúde? Educar para a sabedoria?
O nosso sistema educativo parece receber reformas sempre que um novo governo assume funções, contudo nos últimos governos ficou esquecido. Havia demasiados problemas económicos para resolver, a educação que se aguentasse com o que havia. Mas não havia muito… para além a boa vontade de alguns professores que, mesmo sem condições dignas de trabalho, foram além dos mínimos exigidos e levaram os alunos mais longe no seu processo de desenvolvimento pessoal.
A educação ao longo da vida passa pelo desenvolvimento de competências profissionais e pessoais. Se os adultos escolhem as aprendizagens de acordo com as suas circunstâncias de vida, preferências e nível de desenvolvimento, as crianças e jovens dependem de um sistema que lhes tem falhado MUITO.
Quando se é bom aluno aprende-se de qualquer maneira. São os alunos que têm mais dificuldades que precisam professores extraordinários. É a estes alunos que o sistema mais falha.
Ao falhar a educação, falha também o elevador social que tira as pessoas das classes mais pobres e lhes permite ascender à classe média e média alta. A mobilidade social é crucial para termos pessoas saudáveis e felizes.
Ao longo dos meses, contar os tostões para pagar todas as contas domésticas não deixa espaço para grande evolução pessoal. Não há como ter disponibilidade emocional e financeira para aprender novas competências ou para viver novas experiências que promovam o desenvolvimento espiritual.
Sair da pobreza, da situação de crise constante é fundamental para se viver numa sociedade evoluída. E o sistema educativo é a base para criar essa sociedade.
Como inovar na educação?
As respostas a essa pergunta são muitas e podem encher prateleiras de bibliotecas. Vamos restringir a inovação à estrutura base que permite a aprendizagem com sucesso. Por isso, vou reformular a pergunta (uma coisa que se faz muito em ciência):
Como inovar o sistema educativo para que os alunos desenvolvam as competências básicas para a vida em sociedade e, ao mesmo tempo, desenvolvam a curiosidade por aprender mais sobre os temas que mais gostam?
A resposta surge de imediato: o mesmo sistema com uma nova cultura!
E pronto! Como se não tivéssemos chatices que cheguem na vida, descobrirmos que precisamos da mudança mais difícil de todas: a mudança cultural. Isso significa que é necessária uma intervenção sistémica, ou dito de forma política, uma reforma estrutural.
Só os professores conseguem mudar o sistema, mas para isso é preciso que saibam o que lhes é pedido, e é necessário que tenham uma imagem clara do novo sistema que se pretende construir. Por outras palavras, é necessária uma liderança para que esta mudança esta mudança saia do papel e passe a uma prática generalizada.
A escola cria e reflete a sociedade que somos
Para promover o desenvolvimento integral dos alunos, os professores necessitam de saber mais sobre desenvolvimento integral.
Há aqui uma mudança de vocabulário que muda tudo. Não se formam professores, desenvolvem-se pessoas que são professores, para que essas pessoas possam promover o desenvolvimento dos alunos nas salas de aula. Saímos da ideia da formação técnica para professores e passamos a uma abordagem com base no desenvolvimento humano. Quando isso acontecer, teremos mais escolas excecionais e crianças, jovens e adultos mais felizes.
Pense integralmente,
Andreia
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