Num clima de pessimismo contante, em que as notícias negativas nascem mais rápido do que os cogumelos em tempo de chuva, que razões podemos ter para permanecer otimistas? Neste artigo quero dar-lhe 3 razões para estar otimista em relação ao futuro da Europa. No rescaldo as eleições europeias, deixo-lhe algumas ideias que não encontrei em comentários e opiniões alheias. Espero que a clareza da reflexão traga mais apresso por uma Europa que parece dividida, mas talvez as aparências iludam demasiado.
Razão nº 1 – Liderança na cooperação e no estabelecimento de uma nova ordem social internacional (pensamento sistémico ganha terreno)
Durante milénios o modelo de interação entre povos foi a dominação de uns sobre os outros. Neste modelo de “um ganha e outro perde”, estabelece-se um ciclo vicioso de rancores e vinganças, que perpétua a guerra.
Devido às leis da vida, o mesmo modelo aplica-se às relações interpessoais e profissionais dos pequenos grupos. Neste modelo, um líder é visto como alguém que tem uma posição forte e a impõe aos restantes, fazendo com que o grupo siga a sua liderança, independentemente dos valores individuais.
Bem, isso era antes.
Atualmente, já não é isso que se espera de uma liderança forte. Espera-se que um líder consiga motivar e estabelecer consensos, guiar e inovar, criar valores comuns e uma visão partilhada por todos os elementos – ainda que não pensem todos de igual modo, partilham uma visão comum com vista a objetivos comuns.
A atualidade valoriza a vitória conjunta de todos os elementos, valoriza a visão sistémica e não a visão linear única imposta por modelos patriarcais.
A União Europeia (EU) é líder na aplicação deste novo modelo de pensamento para a resolução de problemas à escala europeia.
A importância da Europa para Portugal vai muito além dos constantes “cheques” que nos são passados a fundo perdido e em apoios vários. Estar na linha da frente dos países que representam a aplicação ao mais alto nível da evolução humana, é um privilégio e uma responsabilidade.
Por um lado, estamos a expressar a nossa visão sistémica sobre temas complexos e a usar o famoso “desenrascanço” português para contribuir para um mundo melhor. Por outro, beneficiamos das aprendizagens e vantagens de sermos europa.
A EU tem a nível global poder económico, por ser um dos maiores consumidores do planeta, e poder regulador. Na regulação estabelecemos regras ambientais, de segurança, de privacidade e outras, que os parceiros económicos a nível mundial tendem a seguir para poderem continuar a negociar com a EU. De certa forma, o poder económico está a dar à EU maior influência na regulação do mercado e do ambiente a nível global.
É lamentável que as eleições europeias sejam as que têm uma abstenção mais elevada em Portugal. Talvez isso aconteça pela mudança de paradigma a que os muitos portugueses tendem a resistir. Não há um inimigo na europa para derrotar, há vitórias conjuntas que têm de ser criadas, e isso é para muitos difícil de entender.
A nível nacional, se um partido ganha outro perde, as guerrilhas verbais e a agressividades exagerada de alguns parecem aquecer os debates – o que na prática os torna pouco úteis. A nível europeu, a dificuldade em pensar de forma sistémica faz com que muitos portugueses desvalorizem a importância e o impacto que a Europa tem para nós e para o mundo.
Devemos estar otimistas pelo facto que sermos europeus e estarmos na vanguarda da evolução humana com a EU a liderar posições em áreas chave a nível da governance global. E devemos estar otimistas porque os que melhor representam esta evolução são as pessoas que conseguem estabelecer mais consensos, sem se conformarem com a opinião tradicional, mas inovando e conduzindo o grupo a vitórias conjuntas.
Os que melhor nos representam são os melhores líderes, não os que mais gritam ou os que defendem um regresso ao passado fascista. As votações em Portugal refletiram precisamente isso.
Razão nº 2 – A terra é um sistema vivo e as iniciativas ecológicas têm um efeito não-linear na conservação da natureza
A crise climática, juntamente com o imperativo da longevidade, é um dos grandes desafios que a humanidade enfrenta na nossa era.
Mais uma vez, neste campo as notícias parecem não ser muito animadoras. Desastres climáticos por todo o planeta. Questões económicas relacionadas com o modelo capitalista que põe em risco ecossistemas inteiros. Tempestades, secas e incêndios de grandes dimensões que fazem lembrar descrições apocalípticas.
Porque podemos estar otimistas?
Por um lado, ainda há muito que cada um de nós pode fazer a nível individual para ajudar a melhorar a saúde do planeta. Isso é bom, porque não esgotamos todas as hipóteses.
Por outro lado, há aquela lei da vida que diz que a regulação planetária é não-linear. O que significa que todas as iniciativas de limpeza do planeta, implementação de sistemas de energia renovável, plantação de árvores, reciclagem, redução do consumo, etc, que levam à criação de uma economia circular criam mais valor ecológico do que a soma das suas partes.
Como a terra é um sistema vivo, a autorregulação da temperatura é não-linear. Os efeitos à escala global das iniciativas locais são muito maiores do que o que o modelo linear poderia prever. Pelo que tudo o que cada um de nós faz conta mais do que o que é imediatamente visível, ajuda a criar novos equilíbrios à distância. São efeitos borboleta positivos.
Cada vez mais, devido à consciencialização para as questões ambientais, há mais iniciativas comunitárias de preservação da natureza, regeneração de habitats, construção de uma economia circular, um mundo mais verde ou mais azul quando as iniciativas são no oceano.
O mediterrâneo está cheio de lixo e morte. Há quem lhe chame um cemitério. Ao mesmo tempo há cada vez mais pessoas individuais e associações a limpar as águas deste mar. Cada ação de limpeza restabelece ecossistemas que espalham vida pelos arredores, mais uma vez uma pequena iniciativa tem efeitos sistémicos numa zona geográfica maior do que a que foi intervencionada.
Razão nº 3 – Empoderamento individual leva à responsabilização pessoal pela saúde
Sempre que tomamos consciência do quanto a nossa saúde depende de nós, dos nossos hábitos pessoais, do nosso estilo de vida, e escolhemos viver em vez de sofrer com doenças, melhoramos a saúde do planeta.
Cada um de nós ao tornar-se mais saudável fica também mais feliz, evolui como ser humano.
O desenvolvimento humano é integral, o que implica que todas as dimensões humanas estão interligadas. Ou seja, se melhoramos numa delas melhoramos em todas, mesmo sem sequer.
Por exemplo, quando nos sentimos melhor a nível físico, melhora a saúde mental e o potencial de desenvolvimento espiritual. Se trabalhamos ao nível da saúde mental, a saúde física renova-se e a evolução espiritual é espontânea. Isto acontece porque todas as nossas dimensões estão interligadas e são interdependentes.
A boa notícia é que cada pessoa pode escolher apenas uma dimensão em que quer melhorar e tomar iniciativas nesse sentido. Ao fim de algum tempo, todas as suas dimensões terão evoluído.
Só precisa de mudar uma coisa em si, para ser ainda melhor pessoa.
A resistência às mudanças impede-nos de evoluir como pessoa e como sociedade. A razão para estarmos otimistas é que cada vez mais pessoas aderem de forma voluntária a mudanças que melhoram a sua saúde. Esta tribo, que é cada vez maior, é formada por pessoas empoderadas que são melhores líderes nos seus trabalhos por conseguirem liderar cada vez melhor a sua própria vida.
Viva integralmente,
Andreia
A europa está a surpreender pela positiva. A derrota da extrema direita nas eleições francesas é a prova disso. De facto, as pessoas deviam estar mais atentas ao que se passa na EU.